Maior importador indonésio descobriu o pastel de nata
O director do maior importador agro-alimentar da Indonésia, a Sukanda Djaya, veio a Portugal vencido pelo cansaço. Não estava à espera daquilo que encontrou e saiu com a certeza que quer comprar produtos portugueses. Pastéis de nata, sardinhas enlatadas e temperos culinários são apenas alguns dos artigos que cativaram o importador, pela qualidade e pelo preço.

Chegou a Portugal na segunda-feira passada a convite da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal. A convite entre aspas, que isso era quando havia dinheiro para gastar com empresários e delegações. Agora, estas missões empresariais são auto-sustentáveis, ou seja, custeadas na quase totalidade pela empresa estrangeira.

Na bagagem, o director da Sukanda Djaya para a área de novos negócios, Alexander Harsono, trazia o roteiro de uma semana de visitas a onze fábricas de empresas portuguesas que ele próprio seleccionou de uma lista mais vasta fornecida pela AICEP. "Temos de ser pragmáticos", explicou Eurico Brilhante Dias, membro da comissão executiva da agência estatal. "O que nos interessa é a eficácia e não a quantidade. Desta forma, acabamos por reduzir os riscos de insucesso da visita".

Parece ter sido uma boa estratégia. Alexander Harsono já tinha ouvido falar de Portugal. Há muito que um delegado da AICEP em Jacarta tentava convencê-lo a visitar o país. "A verdade é que tinha muito pouca informação sobre Portugal", conta o responsável da Sukanda Djaya, deixando transparecer que a ideia que tinha não era das melhores. Talvez pelas ligações com Timor, para ele Portugal continuava a ser um país em vias de desenvolvimento.

Mas, logo ali, deixou a nu um dos problemas que mais afectam Portugal em termos de comércio externo. "Sabe, nós [as empresas importadoras] não temos tempo para andar em cocktails a fazer conversa de circunstância e a trocar cartões de visita", confessou. "A nossa estratégia é muito mais agressiva, temos de ser os primeiros e sem muita diplomacia".

O que fazem? Vão a feiras, as principais do sector alimentar, e procuram os stands que se apresentam com maior diversidade de produtos. "Sem informação, não há negócio. Às vezes via Portugal numa esquina, mas só via vinhos em todo o lado e passava a correr sem parar". Na Indonésia, o mais populoso país muçulmano do mundo, o alcoól não é mercadoria desejável.

Cá dentro as coisas passaram-se de forma diferente. "Eu tenho de levar pastéis de nata para a Indonésia. Aqui, em qualquer lado há pasteis de nata, vêem-se esse bolinhos por todo o lado e que bons que são!", diz com um ar guloso e sem querer lembrar-se de quantos terá comido. É que, apesar da Sukanda Djays ter uma equipa de provadores oficial, que experimenta e compara diversos produtos, Alexander Harsono não gosta de deixar créditos por mãos alheias. E prova tudo, até piri-piri. E foi assim, de prova em prova, que descobriu os temperos para culinária das empresas Maçarico, S.A., localizada entre Aveiro e Figueira da Foz, e Mendes Gonçalves, na Golegã, "De qualidade superior", garante. Ou as sardinhas em lata da Ramirez & C.ª (Filhos), em Matosinhos: "nunca tinha comido tal coisa" e os bombons da Imperial, de que também ficou fã.

Pastéis de Nata

Ao longo da visita, Alexander Harsono foi construindo uma nova imagem de Portugal e das suas empresas. Apesar da pequena e média dimensão da maioria das fábricas que visitou, não conseguiu evitar o comentário "a Compal é deveras impressionante!" e rendeu-se às restantes, muito industrializadas e com óptimas condições de segurança e higiene.

Mas houve outra coisa que impressionou Alexander Harsono e que o deixou ainda com mais vontade de fazer negócio em Portugal. "Fui visitar o Continente e não queria acreditar nos preços que vi. O azeite, que importamos sobretudo de Itália, é baratíssimo. Também quero comprar azeite em Portugal, se conseguir este tipo de preços." Actualmente, a empresa importa azeite marca Filippo Berio e, como nem todos têm a habilidade de Belmiro de Azevedo para negociar preços "a marca italiana está a tornar-se cara".

A Sukanda Djaya importa sobretudo marcas americanas como a Heinz ou a Phillips Seafood, mas também procura parceiros na Europa, de onde importa, além do azeite Filippo Berio, as massas Perfetto (Itália) ou Yoplait e Bonduelle (França).

O volume de negócios do sector alimentar indonésio deverá rondar os mil milhões de euros. É preciso ter em conta que grande parte dos produtos alimentares chegam apenas a uma pequena parte da população, aquela que tem poder de compra. Mas as perpectivas são imensas.

A economia indonésia está a crescer 7% ao ano e só a capital, Jacarta, tem sete milhões de habitantes, quase tantos como Portugal. Trata-se do quarto país mais populoso do mundo e em 2050 deverá atingir os 290 milhões de habitantes.

A Indonésia é a maior economia do Sudeste Asiático e é membro do G-20, o grupo dos vinte países mais industrializados do mundo. O PIB (Produto Interno Bruto) ronda os 325 mil milhões de euros. Os serviços representam 45,3% do PIB, seguidos da indústria, 40,7%, e da agricultura, 14%, que continua a ser o sector que emprega mais pessoas.

A Indonésia é um país rico em recursos naturais, sobretudo petróleo e gás natural, o que contrasta com a sua população, que é, na maioria, pobre. São ainda importantes as indústrias têxtil e a produção de cereais, batata doce, tabaco, chá, café, especiairias e borracha. A minoria chinesa continua a controlar grande parte do comércio local.

Os principais mercados da Indonésia são o Japão, os Estados Unidos a China e Singapura e as importações incluem máquinas e equipamentos, produtos químicos, combustíveis e alimentos.

O retrato ilustra as potencialidades do mercado. E a necessidade de produtos em que Portugal pode ser competitivo. A Sukanda Djaya é uma empresa familiar, com cerca de três mil empregados, que, no entanto, é o maior importador agro-industrial: movimenta cerca de 200 contentores por mês - o que representa menos de 100 milhões de euros por ano - e praticamente não tem concorrência. E é esta dimensão que pode interessar às empresas portuguesas, uma vez que os volumes exigidos em termos de produto não reflectem ainda a magnitude do país.

A Sukanda Djaya possui infra-estruturas que lhe permitem armazenar produtos alimentares secos e congelados, que distribui, através dos seus cerca de 18 centros, para as principais cadeias de restauração e retalho do país.

Fonte ionline 12-09-2011

 

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