Mercúrio (Hg)
Descoberto ainda na Grécia antiga, foi um dos primeiros elementos estudados e tem sido de interesse para os estudantes de química desde os dias da alquimia até a actualidade. Pode ser usado em termómetros, barómetros, lâmpadas, medicamentos, espelhos, detonadores, corantes e outros.

Em grego, hydro significa "água" e argyros era o nome grego da "prata". Os romanos latinizaram o nome para hidrargirium. E como os símbolos químicos são dados pela inicial maiúscula (e uma segunda letra em minúsculo para diferenciação) do nome em latim, seu símbolo ficou sendo Hg (para não confundir com o símbolo do hidrogénio, H).

Descrição Geral

Nome: Mercúrio
Símbolo: Hg
Nome Latim: hydrargyrum
Cor: Prateado
Número Atómico: 80
Classe: metal de transição
Massa Atómica: 200,59
Densidade: 13,6 g/ml
Ponto de Fusão: -38,84ºC
Ponto de Ebulição: +356,58ºC
Estado Físico Natural: líquido à temperatura ambiente
Uso Industrial: termómetros, barómetros, lâmpadas, medicamentos, espelhos, detonadores, corantes, entre outros.
Doença causada por contaminação: hidrargirismo

O mercúrio é um metal com características sui generis. É o único metal que se apresenta no estado líquido à temperatura ambiente tendo o ponto de fusão de - 38,87 graus Celcius, e o ponto de ebulição de 356,58 graus Celcius. Este metal líquido prateado é muito denso, e ainda possui uma tensão superficial alta o bastante para fazer com que o seja capaz de formar pequenas esferas perfeitas nas rochas e minerais onde é encontrado. Muitas características mineralógicas simplesmente não se aplicam ao mercúrio pelo fato dele ser líquido. Não se pode, por exemplo, definir um grau de dureza. O mercúrio não possui sequer estrutura cristalina nem plano de clivagem. Quando congelado e submetido a baixas pressões, o mercúrio forma cristais no sistema romboédrico e no sistema tetragonal se submetido a altas pressões.

O mercúrio dissolve facilmente o ouro e a prata o chumbo e metais alcalinos formando ligas relativamente consistentes conhecidas como amálgamas. No ar altera-se lentamente recobrindo-se com uma película de cor cinza de oxido mercuroso. A 350ºC oxida-se mais rapidamente, produzindo óxido mercúrico vermelho, HgO. É atacado pelo cloro a frio, pelo enxofre a quente, decompõe o ácido sulfúrico e o ácido nítrico. O mercúrio é obtido pela combustão do seu sulfeto ao ar livre. Seu uso industrial é bastante amplo podendo ser usado em termómetros, barómetros, lâmpadas, medicamentos, espelhos detonadores, corantes, entre outros. O mercúrio é monovalente sob forma de Hg nos compostos mercurosos como o Hg2O e Hg2Cl2 e bivalente nos compostos mercúricos como o HgO e o HgCl2, HgS e Hg(CNO)2.

Utilização

O Cinnabar (sulfureto mercúrico) era usado na pré-história para fazer desenhos nas cavernas. Encontrado nos túmulos egípcios, especula-se que era utilizado como conservante ou como protector contra espíritos malignos.

Cremes cutâneos, para o tratamento de infecções, apresentavam-no na sua constituição. Na Idade Média usava-se especialmente no tratamento de sífilis (pequenas quantidades eram eficazes, mas grandes eram fatais). A frase “Uma noite com Vénus seguido de uma vida com Mercúrio” retratava bem os efeitos tóxicos do mercúrio no tratamento da sífilis.

Nos séculos XVIII e XIX começou, também, a ser usado como agente diurético (diuréticos mercuriais) e como agente anti-séptico. No século XX as aplicações médicas dos compostos de mercúrio eram frequentes, como por exemplo a adição de Hg2Cl2 nos pós dentários.

Em Inglaterra, recorria-se ao nitrato de mercúrio para tratar a pele utilizada na preparação de chapéus. O resultado era bom para o chapéu, mas podia ser fatal para quem os fazia.

Durante os anos 70, os organomercuriais, especialmente metilmercúrio e etilmercúrio, eram largamente empregues na agricultura como antifúngicos.

Como exemplo do seu uso como conservante/anti-séptico temos:

Mercurocromo (dibromohidroximercurifluoresceina).

Timerosal (tiosalicilato de etilmercúrio) que é ainda incluído como conservante em vacinas em todo o mundo, embora os Estados Unidos tenham vindo a alertar para o seu potencial tóxico em crianças.

Os compostos fenilmercúrio e etilmercúrio continuam a ter um uso limitado como agentes antibacterianos e conservantes.

O cloreto mercúrico que é um agente anti-séptico ou desinfectante tópico.

O cloreto mercuroso era incluído em produtos laxantes e pó dentário. Todavia, actualmente, está a ser substituído por compostos mais eficazes e seguros.

Na era industrial é usado em barómetros e termómetros de mercúrio; como eléctrodo na produção electrolítica de cloro e soda cáustica; em circuitos eléctricos (hoje em dia ainda é muito utilizado nos circuitos de automóveis); o vapor de mercúrio pode também ter várias aplicações, como em lâmpadas de vapor de mercúrio, luzes fluorescentes e pilhas.

O mercúrio líquido é capaz de formar amálgamas estáveis com outros metais, especialmente com a prata e com o ouro. Esta propriedade foi aproveitada para a extracção destes em minas, uma vez que o mercúrio evapora facilmente da amálgama, quando sujeito ao calor, obtendo-se assim o ouro ou a prata puros.

Uma amálgama, principalmente com prata, foi introduzida na França cerca de 150 anos atrás, como amálgama dentária e é ainda hoje usada, apesar das preocupações dos possíveis efeitos tóxicos que daí possam advir.

Os usos medicinais, quer dos compostos mercúricos, quer dos mercurosos na prática desapareceram. Contudo o mercúrio inorgânico ainda é o princípio activo em cremes despigmentantes em países em vias de desenvolvimento.

Formas físicas e químicas do mercúrio

O mercúrio, o único metal no estado líquido à temperatura ambiente, está presente em diversas formas (Hg metálico, orgânico, inorgânico) e pode encontrar-se em três estados de oxidação (0, +1, +2), em geral facilmente interconvertíveis na natureza. Tanto os humanos, como os animais estão expostos a todas as formas através do ambiente.

O mercúrio metálico ou elementar, no estado de oxidação zero (Hg0) existe na forma líquida à temperatura ambiente, é volátil e liberta um gás monoatómico perigoso: o vapor de mercúrio. Este é estável, podendo permanecer na atmosfera por meses ou até anos, revelando-se, deste modo, muito importante no ciclo do mercúrio, pois pode sofrer oxidação e formar os outros estados: o mercuroso, Hg+1, quando o átomo de mercúrio perde um electrão e o mercúrico, Hg+2, quando este perde dois electrões.

Quando se combina com elementos como o cloro, enxofre ou oxigénio, obtêm-se os compostos de mercúrio inorgânico, também designados como sais de mercúrio (sais mercurosos e mercúricos). Por outro lado, se um átomo de mercúrio se liga covalentemente, a pelo menos um átomo de carbono, dá origem a compostos de mercúrio orgânico (metilmercúrio, etilmercúrio, fenilmercúrio).

Vias de Exposição

O mercúrio metálico ou elementar, no estado de oxidação zero (Hg0), existe na forma líquida à temperatura ambiente, é volátil e liberta um gás monoatómico: o vapor de mercúrio. Este é quimicamente estável, podendo permanecer na atmosfera por um longo período de tempo, onde sofre oxidação e origina os compostos inorgânicos (compostos mercurosos e mercúricos).

O vapor de mercúrio presente na atmosfera é, eventualmente, convertido na forma solúvel em água e retorna à superfície terrestre nas águas da chuva. A partir daqui duas importantes mudanças químicas podem ocorrer. O metal pode ser reduzido novamente a vapor de mercúrio e retorna à atmosfera ou pode ser metilado pelos microrganismos presentes nos sedimentos da água, incluindo a água doce ou do mar.

A principal fonte de mercúrio (na forma de vapor de mercúrio) na atmosfera é o desgaste natural da crosta terrestre.

O mercúrio metálico, na sua forma volátil, está presente na atmosfera e na água de beber e aqui os seus níveis são tão baixos que a exposição humana é negligenciável. Desta forma, as duas principais vias de exposição humana por inalação são a ocupacional (essencialmente a exposição crónica) e através de amálgamas dentárias.

A amálgama dentária é constituída por uma mistura de metais geralmente nas proporções de 50% de mercúrio metálico, 35% de prata, 9% estanho, 6% de cobre e vestígios de zinco. Deste modo, é inserida nos dentes para cobrir os espaços vazios resultantes de cáries e adquire uma estrutura sólida em 30 minutos. Neste caso, a exposição ao mercúrio deve-se à libertação de pequenas partículas da amálgama por processos vulgares como a corrosão, a mastigação e a fragmentação. Esse mercúrio vai ser então inalado como vapor de mercúrio ou deglutido dissolvido na saliva. Contudo, não foi provado qualquer efeito adverso para a saúde que provenha das amálgamas, encontrando-se apenas casos raros de alergia.

Como fontes antropogénicas encontramos geradores de electricidade a carvão, ETARs, refinarias, fábricas de adubos, lâmpadas de vapor de mercúrio, pilhas e extracção do ouro. Por outro lado, cerca de 2000 a 3000 toneladas são libertadas anualmente para a atmosfera devido a actividades humanas, onde os incineradores de resíduos hospitalares e urbanos contribuem com cerca de 50% das emissões de mercúrio total para o ar.

Certos rituais religiosos e étnicos em que se usam o mercúrio líquido também podem levar à libertação de vapor de mercúrio.

O mercúrio inorgânico (compostos mercurosos e mercúricos), sob a forma de cloretos, faz parte da constituição de pós dentários que são geralmente utilizados por crianças. Podem também ser empregues em compostos medicinais, visto que detêm uma acção laxativa e fazem parte da composição de alguns chás. Desta forma, a sua exposição via oral está aqui fundamentada.

A Organização Mundial de Saúde (WHO) estima que na população em geral da Europa e dos Estados Unidos da América, a ingestão diária de mercúrio inorgânico é cerca de 4 µg de Hg, enquanto, a ingestão diária de todas as outras formas de mercúrio é cerca de 6.6 µg de Hg.

Por outro lado, temos a via de exposição cutânea, onde alguns cremes que contém compostos mercurosos e/ou mercúricos são usados como despigmentantes.

Uma vez que estes compostos inorgânicos não vaporizam à temperatura ambiente, não é referida a exposição por via inalatória.

Risco para a saúde

Livre no ambiente uma grande parte do mercúrio é absorvida direta ou indiretamente por plantas e animais aquáticos, iniciando o processo de "bioacumulação". Esse processo provoca a concentração de mercúrio em quantidades cada vez maiores nos animais imediatamente acima na cadeia, até atingir o topo da cadeia alimentar, assim os seres humanos acaba recebendo a maior carga química tóxica no final desse processo acumulativo denominado “bioamplificação”. O mercúrio bioacumula nos tecidos dos seres vivos. A atividade dos microorganismos e outros processos contidos no ambiente, lagos, rios e oceanos convertem o mercúrio metálico em mercúrio orgânico, a forma mais tóxica e letal do mercúrio, nesta forma poderá haver absorção diretamente pela pele podendo causar estado de inconsciência, movimentos involuntários, degeneração das células do cérebro, atrofiamento e degeneração do sistema nervoso, falta de sensibilidade dos membros e dos lábios, distúrbio das funções motoras, fala inarticulada, campo de visão alterado, defeitos congénitos.

As principais formas químicas do mercúrio que acarretam problemas a saúde dos seres vivos são: Hg elementar (metal puro - Hg), compostos inorgânicos (cloreto de Hg - Hg Cl) e compostos orgânicos como o metilmercúrio (CH3 Hg+). Estudos têm demonstrado que 80% dos vapores do mercúrio puro elementar inalado é retido pelo organismo e sofre completa absorção pelas membranas alveolares, uma grande parte do vapor inalado permanece na corrente sangüínea podendo de alguma forma atravessar as barreiras hematoencefálica e placentária.

Juntamente com o cádmio e o chumbo, o mercúrio é bastante estudado e de comprovada ação neurotóxica. A sua principal via de absorção, pelo corpo humano, é a respiratória. No entanto, também pode ser absorvido pelo contacto com a pele, ou através do sistema gastrointestinal. Mas a principal contaminação é via ingestão de alimentos contaminados com o metilmercúrio (forma química orgânica mais tóxica), sendo os peixes e frutos do mar os mais importantes vetores.

À medida que o mercúrio entra na circulação sanguínea, liga-se a proteínas e se distribui pelos tecidos, concentrando-se nos rins, fígado, medula óssea, cérebro, ossos e pulmões. Em nível de via digestiva, o mercúrio exerce ação cáustica responsável pelo transtorno digestivo. As intoxicações por mercúrio variam seus sinais e sintomas de acordo com o nível de intoxicação (aguda, subaguda e crónica). No sistema nervoso, os resultados de seus efeitos são desastrosos, podendo causar de lesões leves até a vida vegetativa ou à morte. O metilmercúrio, por possuir alta solubilidade em gorduras, pode ser transferido do sangue da mãe para o filho através da placenta, pois o bebé é mais sensível a pequenas doses de mercúrio do que indivíduos adultos.

Geralmente quem foi intoxicado pelo vapor do mercúrio pode apresentar sintomas como dor de estômago, diarreia, tremores, depressão, ansiedade, gosto de metal na boca, dentes moles com inflamação e sangramento na gengiva, insónia, falhas de memória e fraqueza muscular, nervosismo, mudanças de humor, agressividade, dificuldade de prestar atenção e até demência. Mas pode contaminar-se também através de ingestão. No sistema nervoso, o produto tem efeitos desastrosos, podendo dar causa a lesões leves e até à vida vegetativa ou à morte, conforme a concentração.

O mercúrio tem sido usado pelo homem há pelo menos 3.000 anos, sendo empregado na indústria e na formulação de medicamentos. Em 1953, os habitantes de uma pequena baía no Japão, Minamata, apresentaram sintomas neurológicos como restrição do campo visual, ataxia de marcha e deficiência auditiva. Foi descoberto que o óxido de mercúrio era utilizado por uma fábrica na produção de acetaldeído e o metilmercúrio, produto final, era descartado na água, contaminando os peixes. Os habitantes que tiveram efeitos tóxicos consumiram os peixes. Foram aproximadamente 2.000 vítimas e 51 mortes.

Nível de risco

O ser humano é exposto ao mercúrio por meio da ingestão de peixes (metilmercúrio).

No ambiente de trabalho, a principal forma de exposição ocorre devido à inalação de vapor de mercúrio a partir do metal líquido; a retenção alveolar pode ser superior a 80%, sendo transportado pelo sangue ao cérebro e outros órgãos. O mercúrio metálico é oxidado a forma ionizada nos eritrócitos. Os íons são lentamente excretados na urina, com meia-vida de 60 dias.

O cloreto de mercúrio (inorgânico), se acidentalmente ingerido, é rapidamente absorvido, sendo extensamente distribuído no organismo.

A forma orgânica é amplamente absorvida por via oral ou pele e distribui-se em todo o organismo. O metilmercúrio distribui-se em todo o organismo, porém concentra-se no sangue e no sistema nervoso central. A depuração da forma orgânica ocorre principalmente via excreção intestinal, enquanto as outras formas do metal são excretadas pelo rim.

A concentração do mercúrio no sangue correlaciona-se com a quantidade total do metal no organismo, assim como no sistema nervoso central. A concentração urinária está indicada na avaliação da duração de exposição ao metal.

Metilmercúrio - Níveis de referência

Sangue total 1 a 8 µg /L
Urina 4 a 5 µg /L
Pessoas que não ingerem peixe 2 µg /L sangue
Pessoas com elevado consumo de peixe 200 µg /L
Grávida inferiores a 40 µg /L

Nível mínimo de risco

Cloreto de mercúrio (oral) Agudo: 7 µg /kg/dia
Intermédio: 2 µg /kg/dia
Mercúrio (inalação) Crónico: 0,2 µg /m3 (vapor de mercúrio)

Tabela adaptada de: Mercury; ToxFAQs: CABSTM/Chemical Agent Briefing Sheet; ATSDR / Division of Toxicology and Environmental Medicine; 2006.

Mecanismo de toxicidade

O mercúrio geralmente é uma toxina protoplásmica. A patofisiologia da toxicidade do mercúrio é directamente relacionada com a sua ligação covalente aos grupos tiol das diferentes enzimas celulares nos microssomas e na mitocôndria, o que leva à interrupção do metabolismo e da função celular. Como as proteínas que têm grupos tiol existem tanto nas membranas extracelulares, como nas intracelulares e ainda nas organelas e, uma vez que estes grupos representam uma parte integral na estrutura ou função da maioria das proteínas, o alvo exacto para o mercúrio não é facilmente determinado, isto se realmente houver um alvo específico.

O órgão mais vulnerável é o sistema nervoso central (SNC), mas o sistema renal e o sistema pulmonar também são susceptíveis à toxicidade.

De entre os possíveis mecanismos de toxicidade podemos enumerar a inactivação de várias enzimas, proteínas estruturais ou processos de transporte, ou alteração da permeabilidade da membrana celular pela formação de mercaptides. O mercúrio tem também afinidade, embora inferior, para se ligar aos grupos carboxilo, amida, amina e fosforilo das enzimas o que contribui para a sua toxicidade.

Tem sido investigado uma variedade de alterações induzidas pelo mercúrio, incluindo o aumento da permeabilidade da barreira hematoencefálica, inibição da polimerização e formação dos microtúbulos, interrupção da síntese de proteínas, paragem da replicação do DNA e interferência na actividade da DNA polimerase e na fosforilação-desfosforilação, defeito na transmissão sináptica, rompimento da membrana, desregulação do sistema imunitário e mudança na homeostase do cálcio. Estas alterações podem ocorrer individualmente ou em conjunto.

O mercúrio origina uma depleção dos níveis de glutationa, superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase, o que confere uma menor protecção das células relativamente ao fenómeno de stress oxidativo. Além disso, através das alterações no estado dos tióis intracelulares, o mercúrio pode induzir a peroxidação lipídica, disfunção mitocondrial e mudanças no metabolismo do grupo heme.

O HgCl2 pode causar a despolarização da membrana interna mitocondrial, com consequente aumento na formação de H2O2. Estes acontecimentos estão ligados à depleção de glutationa mediada pelo Hg2+ e com a oxidação do nucleótido piridina, o que leva a uma condição de stress oxidativo caracterizado pelo aumento da susceptibilidade da membrana mitocondrial à peroxidação lipídica, dependente do ferro. Sabe-se também que as alterações provocadas pelo mercúrio na homeostase mitocondrial do cálcio podem exacerbar o stress oxidativo induzido pelo Hg2+ nas células renais. Como resultado do aumento da formação radicais livres e da peroxidação lipídica, o dano oxidativo no rim pode originar numerosas mudanças bioquímicas, incluindo a excreção em excesso de porfirinas na urina (porfirinúria).

A interacção sinérgica entre as mudanças na homeostase intracelular do cálcio e o estado dos tióis intracelulares, culmina em peroxidação lipídica, activação da proteólise dependente do Ca2+, activação da endonuclease e hidrólise dos fosfolípidos.

Estudos sobre o efeito das várias formas de mercúrio na transmissão sináptica revelaram que os mecanismos subjacentes aos seus efeitos tóxicos variam consoante os locais de acção, potência e reversibilidade dos mesmos. O mercúrio inorgânico parece actuar primeiro na membrana pós-sináptica neuronal, enquanto o metilmercúrio e o fenilmercúrio actuam tanto nos locais pré- e pós-sinápticos mas, em primeira instância na membrana pós-sináptica.

Atendendo à elevada lipossolubilidade do metilmercúrio, este direcciona-se para a mielina, onde inibe eficazmente a excitabilidade neuronal. Verificou-se também que o cloreto mercúrico provavelmente tem uma actividade inibitória ao ligar-se aos grupos sulfidrilo das proteínas de transporte do Ca2+. Isto leva tanto a uma inibição da contracção muscular como a um aumento da inibição neuronal.

Por último, a divisão e migração celular requerem microtúbulos funcionais para ocorrerem normalmente, logo, estes têm sido sugeridos como alvos primários, do metilmercúrio, no que diz respeito à interrupção do desenvolvimento do sistema nervoso.

Dilemas de saúde pública

As amálgamas dentárias, o metilmercúrio nos peixes e o etilmercúrio utilizado como conservante (timerosal) nas vacinas, constituem actualmente um dilema de saúde pública.

Estas três faces modernas do mercúrio têm em comum o facto de biliões de pessoas estarem expostas a elas, os riscos que acarretam para a saúde são incertos e cada um tem um benefício associado.

As amálgamas dentárias, mais de um século após a sua primeira utilização, continuam a ser o material de preenchimento dentário mais eficaz. O seu tempo de vida na cavidade oral é avaliado em anos. Nenhuma alternativa para o preenchimento consegue atingir este grau de longevidade. Nos materiais de preenchimento com duração inferior, os custos são pesados, não só nos termos do próprio material, mas também no número de visitas ao dentista.

Sabe-se que o consumo de peixe tem benefícios cardiovasculares, estando estes bem estabelecidos. Os estudos mais recentes identificam o peixe como benéfico para o desenvolvimento do cérebro e para proteger de tromboses e outras doenças cardiovasculares. No entanto, conferem uma exposição ao metilmercúrio, da qual advém consequências nefastas a longo prazo, sobretudo para o feto.

Por último, a mudança de uma dosagem múltipla de vacinas para dosagem única (que não requer conservante) acarreta custos económicos elevados. Deste modo, isto seria insustentável para os países em desenvolvimento. Além disso, uma redução na toma de vacinas na infância pode atingir um risco de saúde muito maior do que todos os potenciais riscos descritos para o etilmercúrio.

Ambiente

A distribuição do mercúrio numa dada área depende das fontes locais, regionais, nacionais e internacionais de mercúrio emitido. A quantidade de metilmercúrio nos peixes e nos diferentes organismos aquáticos depende de vários factores, como da quantidade de mercúrio proveniente da atmosfera que aí se deposita, da libertação local de mercúrio, da ocorrência natural deste nos solos, das propriedades físicas, biológicas e químicas dos diferentes organismos aquáticos e da idade, tamanho e tipo de alimentação dos peixes. Isto explica porque os peixes de lagos, com fontes locais de metilmercúrio similares, podem ter significativas diferenças, na bioconcentração deste.

As aves e os mamíferos que se alimentam à base de peixes, estão mais expostos ao metilmercúrio do que qualquer outro animal no ecossistema aquático. Consequentemente, animais que consomem os primeiros, estão sujeitos a um risco superior, estando subjacente um processo de biomagnificação.

Os efeitos da exposição ao metilmercúrio na vida selvagem podem incluir perda de peso, diminuição da fertilidade, atraso no crescimento e no desenvolvimento, comportamentos anormais que afectam a sobrevivência e podem eventualmente culminar na morte, dependendo do nível de exposição.

As fontes principais de contaminação ambiental, em relação ao mercúrio, são, em resumo, as seguintes:

- Poeiras espalhadas pelo vento;
- Emulsões marinhas;
- Poeiras e emissões vulcânicas;
- Exploração mineira a céu aberto;
- Combustão de carvão e combustíveis fósseis;
- Emissões de indústrias químicas;
- Produção de lâmpadas elécticas e seu destino final não controlado;
- Produção de pasta de papel;
- Lamas domésticas, produzidas em zonas onde o mercúrio abunda, por razões geológicas ou atropogénicas.

O que fazer em caso de derrame de mercúrio?

Evite que o mercúrio se disperse.

Evacue a sala ou área afectada imediatamente. Feche as portas e abra as janelas para ventilar a sala. Mantenha as pessoas e animais afastados.

Desligue qualquer sistema de ventilação que possa espalhar o vapor de mercúrio para outras áreas. Baixe a temperatura, se possível, para minimizar a quantidade de mercúrio que pode evaporar. Tape o mercúrio com um plástico para reduzir a evaporação dentro de casa, se não for limpar imediatamente, confinando assim a área exposta.

Mantenha as pessoas que estiveram em contacto com a área contaminada numa sala separada até que elas troquem a sua roupa e sapatos. Se possível, tome banho antes de trocar para uma roupa limpa. Assim protege as outras pessoas da contaminação por mercúrio e previne que este se espalhe.

Não utilize novamente os artigos contaminados. Mas coloque num saco selado, com uma etiqueta a identificar o resíduo perigoso até que possa ser feita uma limpeza e tratamento adequado ao artigo.

Nunca limpar com sistemas de vácuo (aspiradores) ou vassoura. O calor do sistema a vácuo vai aumentar a quantidade de vapor de mercúrio no ar. As vassouras vão espalhar o mercúrio, tornando a limpeza adequada mais difícil.

Utilizar um conta-gotas ou esponja adequada para aspirar o mercúrio.

Nunca deitar o mercúrio num cano de esgoto porque este pode ficar no cano e deste modo pode continuar a evaporar.

Nunca lave as roupas contaminadas com mercúrio na máquina de lavar. O mercúrio pode contaminar a máquina e/ou poluir o esgoto.

Utilize luvas de borracha, protecção para os olhos se possível, lanterna, muitos sacos plásticos com fecho zip, dois sacos de lixo de plástico, fita adesiva, toalhas de papel e cartão não ondulado.

Utilize enxofre ou zinco pulverizado para que se liguem aos resíduos de mercúrio.

 

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