Na vila de Alhandra, concelho de Vila Franca de Xira, ainda há muita gente que depende do rio para sobreviver. A vida é dura e o dinheiro mal chega para as contas. Em tempo de crise é o peixe que ainda vai permitindo algum rendimento extra.
Em casa de João Tavares, pescador na vila de Alhandra, concelho de Vila Franca de Xira, não há hora para despertar. Tudo depende do que dita a maré do Tejo. Este homem de 50 anos, natural de Alhandra, é um dos que ainda depende do rio para viver.
“Levanto-me às quatro ou às cinco da manhã para ir pescar. Estamos confinados ao que dita a maré”, revela enquanto caminha para o barco que tem parado ali perto no cais. “O meu pai foi pescador e desde os 12 anos que ando nisto. Pesco uns linguados, corvina, camarão e agora ando ao polvo junto à barra”, informa.
João Tavares diz ter orgulho em pertencer a uma das grandes comunidades piscatórias do concelho. “Alhandra é uma boa terra para se ser pescador porque temos mais condições, temos um bom cais e deixamos os barcos atracados num sítio onde ninguém mexe, na Póvoa, por exemplo, já têm roubado motores. Aqui é mais sossegado”, refere. João Tavares esteve oito meses a trabalhar em Inglaterra, “a lavar pratos num restaurante e nas obras” mas o amor ao Tejo foi mais forte e voltou a casa.
Quem sempre ficou por Alhandra foi Constantino Padinha, 73 anos. Os pais andavam na pesca do sável na Vala do Carregado quando Constantino nasceu, já perto de Alhandra. “Nunca andei na escola, a minha aprendizagem foi feita no rio”, afiança. Actualmente são as águas do Tejo que lhe dão parte do sustento da casa. “Ainda pesco por gosto mas muito por necessidade. Não me governo com 200 euros de reforma”, lamenta.
Lembra os tempos em que a pesca era dura e de miséria. “Cheguei a apanhar peixe e não ter a quem vender porque não havia dinheiro”, recorda. Hoje em dia a maioria dos pescadores vende o produto aos mercados, lojas e restaurantes da vila. À margem da lei vai saindo também alguma amêijoa. “Há aqui muito peixe que o Governo não nos deixa apanhar, como a amêijoa. Se legalizassem a apanha todos saiam a ganhar, os pescadores e o Estado”, defende.
Aos 62 anos Manuel Tocha Mendes é um dos símbolos da comunidade piscatória de Alhandra. Começou a pescar aos sete anos e já não parou. Natural de Salvaterra de Magos, desceu o rio com a família atrás do peixe e ainda hoje olha para o rio com o entusiasmo próprio de quem está apaixonado pela arte. “Vim para cá porque aqui é que havia peixe. Conforme ele foi acabando tive de vir por aqui abaixo e assentei em Alhandra”, recorda.
Manuel Mendes confessa que o peixe é pouco para todos os que dele procuram sustento, mas garante que ainda vai dando para o gasóleo. “O negócio está péssimo, eu vivo da pesca mas há muito pouco peixe, está a fugir todo. Eu ainda consigo vender algum mas de há três anos para cá não há nada”, lamenta.
Por toda a parte encontram-se redes de pesca, linhas e boias. Alguns barcos vieram para terra para serem reparados. “A água doce não mata tanto como a salgada mas mói”, dizem. Um gato come os restos de um peixe que não se vendeu. Diz quem vive do rio que o espaço não está desarrumado. “Está organizado à nossa maneira”.
Em Alhandra a comunidade junta-se e no Verão e preparam-se petiscos, mesmo ao lado do local onde é feita a festa da freguesia. A vida de pescador é dura, também, para as mulheres. Maria Luísa Silva, 51 anos, confessa ter dias de preocupação. “Aqui também pode acontecer um acidente e quando está mau tempo andamos sempre aflitos ao saber que eles andam lá fora”, revela. Para esta mulher o maior problema são os meses em que a comida não chega. “Temos de gerir bem o pouco que temos para nunca passar fome. Temos de viver com o que ganhamos e com o que o rio nos dá”, lamenta.
Fonte O Miramte 16-06-2011
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João Tavares diz ter orgulho em pertencer a uma das grandes comunidades piscatórias do concelho. “Alhandra é uma boa terra para se ser pescador porque temos mais condições, temos um bom cais e deixamos os barcos atracados num sítio onde ninguém mexe, na Póvoa, por exemplo, já têm roubado motores. Aqui é mais sossegado”, refere. João Tavares esteve oito meses a trabalhar em Inglaterra, “a lavar pratos num restaurante e nas obras” mas o amor ao Tejo foi mais forte e voltou a casa.
Quem sempre ficou por Alhandra foi Constantino Padinha, 73 anos. Os pais andavam na pesca do sável na Vala do Carregado quando Constantino nasceu, já perto de Alhandra. “Nunca andei na escola, a minha aprendizagem foi feita no rio”, afiança. Actualmente são as águas do Tejo que lhe dão parte do sustento da casa. “Ainda pesco por gosto mas muito por necessidade. Não me governo com 200 euros de reforma”, lamenta.
Lembra os tempos em que a pesca era dura e de miséria. “Cheguei a apanhar peixe e não ter a quem vender porque não havia dinheiro”, recorda. Hoje em dia a maioria dos pescadores vende o produto aos mercados, lojas e restaurantes da vila. À margem da lei vai saindo também alguma amêijoa. “Há aqui muito peixe que o Governo não nos deixa apanhar, como a amêijoa. Se legalizassem a apanha todos saiam a ganhar, os pescadores e o Estado”, defende.
Aos 62 anos Manuel Tocha Mendes é um dos símbolos da comunidade piscatória de Alhandra. Começou a pescar aos sete anos e já não parou. Natural de Salvaterra de Magos, desceu o rio com a família atrás do peixe e ainda hoje olha para o rio com o entusiasmo próprio de quem está apaixonado pela arte. “Vim para cá porque aqui é que havia peixe. Conforme ele foi acabando tive de vir por aqui abaixo e assentei em Alhandra”, recorda.
Manuel Mendes confessa que o peixe é pouco para todos os que dele procuram sustento, mas garante que ainda vai dando para o gasóleo. “O negócio está péssimo, eu vivo da pesca mas há muito pouco peixe, está a fugir todo. Eu ainda consigo vender algum mas de há três anos para cá não há nada”, lamenta.
Por toda a parte encontram-se redes de pesca, linhas e boias. Alguns barcos vieram para terra para serem reparados. “A água doce não mata tanto como a salgada mas mói”, dizem. Um gato come os restos de um peixe que não se vendeu. Diz quem vive do rio que o espaço não está desarrumado. “Está organizado à nossa maneira”.
Em Alhandra a comunidade junta-se e no Verão e preparam-se petiscos, mesmo ao lado do local onde é feita a festa da freguesia. A vida de pescador é dura, também, para as mulheres. Maria Luísa Silva, 51 anos, confessa ter dias de preocupação. “Aqui também pode acontecer um acidente e quando está mau tempo andamos sempre aflitos ao saber que eles andam lá fora”, revela. Para esta mulher o maior problema são os meses em que a comida não chega. “Temos de gerir bem o pouco que temos para nunca passar fome. Temos de viver com o que ganhamos e com o que o rio nos dá”, lamenta.
Fonte O Miramte 16-06-2011
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