Jaquinzinhos só para caridade
Não se sabe se “o aparato maior” foi a a acção da GNR, aquando da mega-apreensão, de surpresa, no porto de pesca costeira da Gafanha da Nazaré, em Ílhavo, ao cair da tarde de segunda-feira, ou o vai-e-vem, que se seguiu, até ao final da manhã de ontem, das carrinhas de instituições sociais, vindas de vários pontos do Centro e Norte do País, por quem foram distribuídas quase 8 mil toneladas de pescado imaturo.

“Acho que aqui todos estão a errar”, assumiu um dos três comerciantes identificados na posse de carapau com tamanho inferior ao permitido, adquirido na lota de Aveiro. Espécies juvenis designadas como pilim ou mais popularmente de ´jaquinzinhos´, proibidas mas nem por isso muito apreciadas à mesa.

O pescado apreendido apresentava uma larga percentagem de carapau com tamanhos entre os 9 e os 12 centímetros.

Jaquinzinhos só para caridade
Uma das maiores apreensões de sempre de carapau pequeno serviu para alimentar utentes de dezenas de instituições sociais.

O ambiente chegou a aquecer quando os militares do Destacamento de Controlo Costeiro da GNR irromperam pelo porto de pesca, um jogo “do gato e do rato” que se repete ciclicamente no Centro do País envolvendo, também, quantidades elevadas de sardinha juvenil (petinga).

Entre avisos de ordem de prisão, a quem ameaçava destruir o peixe supostamente ilegal, foram interceptados 7.807 quilos de carapau que valeria no mercado, estima-se, 54.649 euros. Algumas carrinhas com mais cabazes escaparam a tempo.

“Uma apreensão com valores que se tornaram dos maiores de sempre e já há muito caídos em desuso”, referiu a guarda que identificou ainda os mestres dois dois barcos que trouxeram para terra o pescado que deveria ter sido devolvido ao mar.

Um deles teria 500 cabazes, que seria destinado na sua maior parte a congelar para exportação (África, Leste europeu).

Na manhã seguinte, enquanto o peixe ainda era distribuído por dezenas de instituições sociais, dos distritos de Aveiro, Viseu, Guarda e até do Porto, que faziam fila, os comerciantes apanhados em falta não calavam a revolta.

Comércio rejeita ser ´mau da fita´

Domingos Pepolim, um dos visados, acusou a GNR de fazer do comércio “o mau da fita” quando “a culpa devia ser repartida por todos”, a começar pelos armadores, passando por quem faz a primeira venda e a terminar nas próprias autoridades.

“Não devemos comprar, mas se não confiamos na lota, que é entidade reguladora, não há aqui autoridade nenhuma” queixou-se o comerciante que tinha 30% do seu peixe com tamanho inferior ao permitido, que é de 15 centímetros. “Não fui dos que tive maior prejuízo”, adiantou.

Não raro, apesar das medidas feitas em alto mar, o peixe chega a terra e “minga” com o passar do tempo em caixas de esferovite com gelo.

Pescadores e comerciantes exigem que seja definida melhor a chamada “tolerância” na lota que “umas vezes permite e outras não”, denunciando-se, assim, critérios de calibragem considerados subjectivos.

As contra-ordenações podem atingir vários milhares de euros, sendo agravadas consoante o volume de negócios, quantidade de pescado e antecedentes.

Uma “elevada percentagem não possuía o tamanho mínimo, definido por lei nos 15 centímetros”, explicitou a GNR.

A necessidade de preservação da espécie impôs medidas de protecção, designadamente a proibição da captura de juvenis que interrompe o ciclo de crescimento.

Algumas normas posteriores permitem, ainda assim, capturas com tamanhos entre os 12 e os 15 centímetros.

Barco identificado em Aveiro voltou a descarregar peixe ilegal na Figueira

Um dos barcos identificados em Aveiro acabaria por ser referenciado novamente na descarga de pescado ilegal no Porto da Figueira da Foz, ontem.

Mais 5.166 quilos (36.162 euros) apreendidos pela GNR por tamanho reduzido.

No mesmo dia, decorreu ainda uma outra apreensão, de 318 quilos (2.226 euros) e identificado um comerciante.

Venda ilegal organizada

Apesar da fiscalização apertada, a GNR admite lidar com “autênticas organizações profissionais” movidas pelo elevado valor comercial dos pilins e jaquinzinhos para consumo doméstico e de restauração. As espécies juvenis são vendidas entre 7 a 12 euros o quilo. Chegam, por isso, a atingir três a quatro vezes mais do que o carapau normal.

De acordo com fonte da guarda, as amostras entregues pelos barcos na lota, com tamanho regular, servem, por vezes, para falsear a restante carga, de menor dimensões, “que passa ao lado”.

Os comerciantes que arriscam rodeiam-se, contudo, de cuidados, dispondo de uma rede de contactos e vigilância, incluído nas praias onde é praticada a arte xávega, para precaver a presença das autoridades.

Quem transporta o pescado imaturo, quando interceptado, tem sempre resposta pronta, alegando não ser o dono, nem saber a quem pertence. As viaturas usadas, não raro, são de stands e sem documentação.

Fonte Notícias de Aveiro 24-08-2011

 

Comentários:

Esta página usa cookies para lhe proporcionar uma melhor experiência. Ao continuar está a consentir a sua utilização.