A União Europeia está preparando restrições à venda de carne derivada de animais clonados, abrindo um novo fronte na batalha que envolve a engenharia alimentar contra poderosos produtores modernos, como a Argentina, onde os produtores cada vez mais clonam bovinos, suínos e outros animais.
A Comissão Europeia, o conselho executivo do bloco, está trabalhando na proposta de um veto ou plano de rotulagem rigoroso para a importação de carne, lacticínios e outros produtos derivados dos descendentes de animais clonados, dizem os oficiais da UE.
A União Europeia, na verdade, não importa um grande volume de carne, mas a batalha faz parte de um conflito maior que envolve o futuro da agricultura global e reflecte outras disputas envolvendo organismos geneticamente modificados, ou transgénicos, a presença de hormonas na carne e de cloro na produção de frango.
Enquanto isso, a Argentina está emergindo como o porta-estandarte da carne clonada.
O laboratório biotecnológico Cabaña Milenium, em Buenos Aires, já clonou 11 animais, entre eles cabras e ovelhas
Cinco operações pioneiras no país encheram seus currais de clones bem-sucedidos, recebendo o apoio — e pouca interferência — do governo, das empresas privadas e universidades.
"Não há razão científica para se regular a clonagem", diz o chefe de gabinete do Ministério da Agricultura argentino. "Em cinco ou seis anos, a Argentina será a maior exportadora de produtos transgénicos e clonados do mundo, mas temos que contornar a resistência da União Europeia."
Como os produtores de culturas transgénicas descobriram, combater a aversão às vezes obsessiva da Europa aos alimentos modificados geneticamente é uma tarefa árdua.
A maioria dos países da UE, com excepção da Dinamarca, permite a importação de carne derivada de clones, mas com 58% dos europeus contrários a essa noção, de acordo com uma pesquisa da Comissão Europeia, os reguladores de Bruxelas estão debatendo uma proibição antes que a prática se torne comum.
Actualmente, há menos de mil bovinos, porcos, cabras, mulas e cavalos clonados no mundo, afirma a Organização da Indústria de Biotecnologia, sediada em Washington. Mas esse número está crescendo e os custos estão caindo.
Um relatório de 2009 da Parma, uma agência de segurança alimentar da Europa com sede na Itália, concluiu que os alimentos clonados não eram prejudiciais à saúde mas, por outro lado, a clonagem — em particular, o procedimento cirúrgico para a inseminação e a alta taxa de mortalidade no processo — é uma forma de crueldade contra os animais.
"Muitos desses animais ficam doentes", diz Kartika Liotard, membro do Parlamento Europeu da Holanda que coordena o debate.
Defensores da prática dizem que a clonagem de animais de qualidade superior pode potencialmente melhorar a genética e a produtividade, diminuindo custos. De acordo com David Edwards, diretor de biotecnologia animal da Organização da Indústria da Biotecnologia, a clonagem "é uma tecnologia de reprodução que ajuda os produtores a criarem animais mais saudáveis e contribuir para uma produção mais consistente de alimentos".
Com preços que chegam a US$ 25.000 cada, os clones não seriam usados directamente para o fornecimento de carne. A maior parte do seu valor vem da reprodução, diz Edwards.
Kartika Liotard e outros membros do Parlamento Europeu buscam regras tão rígidas quanto possível, incluindo uma moratória não só à importação de animais clonados, como à carne da sua prole. Eles querem, no mínimo, uma rotulagem rigorosa que reduza efectivamente desestimule a importação desse tipo de carne devido aos custos adicionais. Isso levou o Conselho Europeu, composto pelos chefes de Estado, a alertar sobre uma guerra comercial.
Em março, as negociações entre os governos da UE, a CE e o Parlamento Europeu para regulamentar a importação de carne e lacticínios derivados de animais clonados na Europa acabaram sem resolução.
O Parlamento Europeu "quer uma solução enganosa e impraticável que requereria traçar uma árvore familiar para cada fatia de queijo, ou pedaço de salame", disse na época o ministro da Fazenda da Hungria, Sandor Fazakas. Ele e seu governo apoiam a autorização da clonagem na UE.
"É um assunto muito delicado, e ainda estamos refletindo", disse Frederic Vincent, porta-voz de John Dalli, comissário da política de saúde e do consumidor. Segundo ele, a comissão deve propor uma legislação em 2012, ainda sem data marcada.
Se a comissão adiar sua proposta, o Parlamento deverá impor sua própria lei, diz Kartika Liotard.
Caso a UE vá adiante com este plano, certamente vai irritar grandes exportadores, como o Brasil, a Austrália, a Argentina e os Estados Unidos, que continuam fazendo experimentos com a clonagem e se uniram para incentivar outros governos a apoiar a prática.
A Argentina está fazendo pressão para avançar de todas as formas. No laboratório de biotecnologia da Cabaña Milenium em Buenos Aires, os cientistas clonaram 11 animais, incluindo cabras, ovelhas, porcos e a estrela do show, Pascual, clone de um dos melhores touros Bradford do país.
O proprietário, Miguel Mellano, exibe uma foto sua junto com a presidente Cristina Kirchner ao lado de uma cabra chamada Libertad, filha de matrizes clonadas. A empresa também oferece serviços de clonagem que serão incorporados à reprodução convencional, disse.
"O desenvolvimento tecnológico é uma das minhas obsessões, porque é onde vamos tornar nossas vantagens agrícolas competitivas", disse Cristina Kirchner durante uma visita à Milenium, no ano passado.
Para clonar animais, os cientistas retiram amostras da pele de matrizes altamente valorizadas, extraindo seu DNA e substituindo o DNA de um embrião em desenvolvimento pelo do progenitor desejado. O embrião é inserido numa fêmea que dá à luz uma cópia genética exata do animal em questão.
Apesar da conclusão dos EUA de que a carne e o leite de descendentes de clones não oferecem nenhum risco adicional, a indústria precisa informar ao público sobre o processo de clonagem para superar a oposição, diz Larisa Rudenko, conselheira de biotecnologia para a FDA, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA.
O Departamento de Agricultura dos EUA solicitou aos produtores de carne que mantenham os clones (mas não sua prole) voluntariamente fora de mercados que se opõem à prática.
Fonte WSJ 02-12-2011
A União Europeia, na verdade, não importa um grande volume de carne, mas a batalha faz parte de um conflito maior que envolve o futuro da agricultura global e reflecte outras disputas envolvendo organismos geneticamente modificados, ou transgénicos, a presença de hormonas na carne e de cloro na produção de frango.
Enquanto isso, a Argentina está emergindo como o porta-estandarte da carne clonada.
O laboratório biotecnológico Cabaña Milenium, em Buenos Aires, já clonou 11 animais, entre eles cabras e ovelhas
Cinco operações pioneiras no país encheram seus currais de clones bem-sucedidos, recebendo o apoio — e pouca interferência — do governo, das empresas privadas e universidades.
"Não há razão científica para se regular a clonagem", diz o chefe de gabinete do Ministério da Agricultura argentino. "Em cinco ou seis anos, a Argentina será a maior exportadora de produtos transgénicos e clonados do mundo, mas temos que contornar a resistência da União Europeia."
Como os produtores de culturas transgénicas descobriram, combater a aversão às vezes obsessiva da Europa aos alimentos modificados geneticamente é uma tarefa árdua.
A maioria dos países da UE, com excepção da Dinamarca, permite a importação de carne derivada de clones, mas com 58% dos europeus contrários a essa noção, de acordo com uma pesquisa da Comissão Europeia, os reguladores de Bruxelas estão debatendo uma proibição antes que a prática se torne comum.
Actualmente, há menos de mil bovinos, porcos, cabras, mulas e cavalos clonados no mundo, afirma a Organização da Indústria de Biotecnologia, sediada em Washington. Mas esse número está crescendo e os custos estão caindo.
Um relatório de 2009 da Parma, uma agência de segurança alimentar da Europa com sede na Itália, concluiu que os alimentos clonados não eram prejudiciais à saúde mas, por outro lado, a clonagem — em particular, o procedimento cirúrgico para a inseminação e a alta taxa de mortalidade no processo — é uma forma de crueldade contra os animais.
"Muitos desses animais ficam doentes", diz Kartika Liotard, membro do Parlamento Europeu da Holanda que coordena o debate.
Defensores da prática dizem que a clonagem de animais de qualidade superior pode potencialmente melhorar a genética e a produtividade, diminuindo custos. De acordo com David Edwards, diretor de biotecnologia animal da Organização da Indústria da Biotecnologia, a clonagem "é uma tecnologia de reprodução que ajuda os produtores a criarem animais mais saudáveis e contribuir para uma produção mais consistente de alimentos".
Com preços que chegam a US$ 25.000 cada, os clones não seriam usados directamente para o fornecimento de carne. A maior parte do seu valor vem da reprodução, diz Edwards.
Kartika Liotard e outros membros do Parlamento Europeu buscam regras tão rígidas quanto possível, incluindo uma moratória não só à importação de animais clonados, como à carne da sua prole. Eles querem, no mínimo, uma rotulagem rigorosa que reduza efectivamente desestimule a importação desse tipo de carne devido aos custos adicionais. Isso levou o Conselho Europeu, composto pelos chefes de Estado, a alertar sobre uma guerra comercial.
Em março, as negociações entre os governos da UE, a CE e o Parlamento Europeu para regulamentar a importação de carne e lacticínios derivados de animais clonados na Europa acabaram sem resolução.
O Parlamento Europeu "quer uma solução enganosa e impraticável que requereria traçar uma árvore familiar para cada fatia de queijo, ou pedaço de salame", disse na época o ministro da Fazenda da Hungria, Sandor Fazakas. Ele e seu governo apoiam a autorização da clonagem na UE.
"É um assunto muito delicado, e ainda estamos refletindo", disse Frederic Vincent, porta-voz de John Dalli, comissário da política de saúde e do consumidor. Segundo ele, a comissão deve propor uma legislação em 2012, ainda sem data marcada.
Se a comissão adiar sua proposta, o Parlamento deverá impor sua própria lei, diz Kartika Liotard.
Caso a UE vá adiante com este plano, certamente vai irritar grandes exportadores, como o Brasil, a Austrália, a Argentina e os Estados Unidos, que continuam fazendo experimentos com a clonagem e se uniram para incentivar outros governos a apoiar a prática.
A Argentina está fazendo pressão para avançar de todas as formas. No laboratório de biotecnologia da Cabaña Milenium em Buenos Aires, os cientistas clonaram 11 animais, incluindo cabras, ovelhas, porcos e a estrela do show, Pascual, clone de um dos melhores touros Bradford do país.
O proprietário, Miguel Mellano, exibe uma foto sua junto com a presidente Cristina Kirchner ao lado de uma cabra chamada Libertad, filha de matrizes clonadas. A empresa também oferece serviços de clonagem que serão incorporados à reprodução convencional, disse.
"O desenvolvimento tecnológico é uma das minhas obsessões, porque é onde vamos tornar nossas vantagens agrícolas competitivas", disse Cristina Kirchner durante uma visita à Milenium, no ano passado.
Para clonar animais, os cientistas retiram amostras da pele de matrizes altamente valorizadas, extraindo seu DNA e substituindo o DNA de um embrião em desenvolvimento pelo do progenitor desejado. O embrião é inserido numa fêmea que dá à luz uma cópia genética exata do animal em questão.
Apesar da conclusão dos EUA de que a carne e o leite de descendentes de clones não oferecem nenhum risco adicional, a indústria precisa informar ao público sobre o processo de clonagem para superar a oposição, diz Larisa Rudenko, conselheira de biotecnologia para a FDA, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA.
O Departamento de Agricultura dos EUA solicitou aos produtores de carne que mantenham os clones (mas não sua prole) voluntariamente fora de mercados que se opõem à prática.
Fonte WSJ 02-12-2011
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