Do Alentejo para o Mundo: até os alemães veneram a cortiça portuguesa
É um sinal de alarme para a indústria da cortiça: entre 2000 e 2009, o sector perdeu 28% das suas empresas. O número caiu de 829 para 597, de acordo com os dados mais recentes, divulgados esta semana pela Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR).

No total, desapareceram 232 empresas. «A diminuição tem ocorrido de forma mais significativa nas empresas cujo escalão de pessoas é inferior a 49 pessoas», lê-se no Estudo de Caracterização Sectorial 2011. Ou seja, as empresas mais pequenas são as mais afectadas.

O último ano em que houve um aumento do tecido empresarial do sector foi em 2002, quando Portugal aderiu ao euro. Desde então, tem sido sempre a descer. A APCOR não duvida: «a tendência de apreciação do euro face ao dólar» tem prejudicado o negócio das empresas portuguesas.

«A perda efectiva de quota de mercado para produtos concorrentes na área dos vedantes para vinhos e o efeito da recessão económica iniciada em 2008» prejudicam igualmente o sector, explica o documento. Tal reflecte-se na perda de valor de 21% nas exportações mundiais de cortiça entre 2001 e 2010, de 1,55 para 1,23 mil milhões de euros.

rolhas de cortiça

Do estudo da APCOR depreende-se que a competitividade das empresas portuguesas tem permitido ao sector aguentar este impacto negativo melhor do que a média. Desde 2001, as exportações portuguesas de cortiça caíram ‘só’ 15%.

«Foram iniciados esforços para contrariar esta tendência, que tiveram reflexos já em 2010, com as exportações portuguesas de cortiça a apresentarem uma taxa de crescimento de 8%», refere a análise da APCOR.

Orgulho nacional

Uma das principais preocupações dos responsáveis do sector prende-se com a venda de rolhas de cortiça natural, que «registaram em 2010 uma quebra de 46,9% face aos valores de 2000, isto é, foram exportadas 21,8 milhares de toneladas».

Contudo, a indústria da cortiça nacional continua a encher de orgulho o espírito de muitos portugueses. O país é líder absoluto no mercado mundial de cortiça, com uma quota de 61,3% (mais 3,7% do que em 2001), e sete em cada dez rolhas de cortiça vendidas no Mundo são Made in Portugal. Por tudo isto, o sector teve uma balança comercial excedentária de 662 milhões de euros em 2010, uma performance «ímpar no panorama nacional e internacional», diz António_Rios de Amorim, presidente da APCOR e líder da Corticeira Amorim.

Os franceses, os norte-americanos e os espanhóis são os maiores apreciadores da cortiça portuguesa. E os alemães podem não gostar das contas públicas do país, mas adoram a cortiça: são o segundo maior importador a nível mundial, em termos de volume.

Alentejo no Mundo

Mas, o que exporta Portugal? Essencialmente rolhas – que representam 70% das vendas ao exterior – e materiais de construção (23,4%). Só a venda de rolhas rendeu 529 milhões de euros ao sector em 2010.

A forte vertente ambiental da actividade é sublinhada no documento da APCOR. Entre 1963 e 2006, a área de sobreiros em Portugal aumentou de 640 hectares para 716 hectares, cerca de três vezes a área geográfica do Luxemburgo. Só o pinheiro bravo (885 hectares) e o eucalipto (740 hectares) estão à frente do sobreiro.

Coruche, Montemor-o-Novo e Alcácer do Sal são os concelhos em Portugal que possuem mais de 40 hectares, cada, de sobreiros plantados.

Por isso, na passagem de ano, quando abrir uma garrafa de champanhe, mesmo que seja francês, provavelmente, a rolha ‘nasceu’ no Alentejo.

Fonte sol 21-12-2011

 

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