Arsénio (As)
O arsénio é conhecido desde as civilizações chinesa, grega e egípcia. Nessa mesma época foram também descobertas as suas propriedades tóxicas.

Crê-se que foi Albertus Magnus o primeiro a obter este elemento, em 1250 a.C. através do aquecimento de um sabão com “orpiment” - palavra inglesa que designa um mineral amarelo usado como pigmento e para a qual não se encontra tradução directa para português (do latim “auripigmentum”: aurum = gold + pigmentum = pigment).

O seu nome deriva da expressão grega “arsenikon” que exprime essa mesma substância amarela.

Principais formas de arsénio

O As apresenta-se essencialmente sob duas formas: inorgânica e orgânica. Esta diferença na sua forma química, bem como no seu estado de oxidação (que pode ser – 3, 0, + 3 ou + 5) influenciam a sua toxicidade.

Compostos inorgânicos de As: estão presentes em águas minerais; antigamente eram usados como promotores do crescimento animal mas actualmente caíram em desuso.

Podem ser tri ou pentavalentes; as primeiras formas são as mais tóxicas. O trioxido de As e o arsenito de sódio destacam-se com formas trivalentes mais abundantes.

Compostos orgânicos de As: tal como os compostos inorgânicos podem ser tri ou pentavalentes; no entanto, têm melhor absorção e eliminação renal pelo que exercem menor toxicidade.

O composto mais comum é o ácido arsénico, ainda hoje usado como promotor do crescimento animal.

Podemos ainda encontrar As na sua forma orgânica na alimentação humana (arsenobetaina e arsenocolina). Estas formas são metiladas no organismo e rapidamente excretadas por via urinária, não representando perigo de grande toxicidade.

Propriedades físico-químicas

O arsénio (As) é um elemento químico que se encontra espalhado pela Natureza. É particularmente difícil de caracterizar como elemento simples, devido à sua química complexa e às inúmeras formas de ocorrência natural.

Nome: arsénio
Símbolo: As
Nome LAtim: arsenium
Cor: amarelo ou cinzento metálico (esta última predominante)
Número Atómico: 33
Classe: semi-metal
Massa Atómica: 74,9216
Densidade: 5,78 g/ml
Ponto de Fusão: 613ºC
Ponto de Ebulição: 817ºC
Características: frágil; cristalino; capacidade de sublimação; tóxico

Ocorrência na natureza

O As, tal como outros metais, encontra-se amplamente distribuído no meio ambiente:
- Solo: precipitação e produtos usados na agricultura.
- Oceanos: dissolvido ou em suspensão, proveniente da agricultura e indústria.
- Atmosfera: fontes naturais ou resíduos industriais.
- Acumulado em peixes e moluscos (sob forma não prejudicial).

No meio ambiente o As não pode ser destruído; apenas pode trocar de forma. É retirado da Natureza sob diversas formas: As4S4, As2S3, As2O3, FeAsS, FeAs2.

A nível industrial é obtido através do aquecimento dos minerais, na ausência de oxigénio. Por exemplo:

FeAsS (700 ºC) FeS + As (g) As (s)

Utilização

Os sais de arsénio são usados como herbicidas (metilarsonato monossódico e metilarsonato dissódico), na preservação da madeira, no fabrico de vidro, nas misturas de metais e no fabrico de tintos.

As preparações de arsénio já há muito que não são recomendadas e raramente são usadas para fins médicos. Por vezes, alguns compostos arsénicos fazem parte de preparações homeopáticas.

Toxicinética

Absorção: a absorção pode dar-se essencialmente por 3 vias:
- Oral (cerca de 95 % dos casos).
- Inalação (25 a 40 % dos casos).
- Dérmica (comprovada mas ainda não quantificada).

A absorção está dependente da forma química e do tamanho das partículas sendo que as formas pentavalentes são melhor absorvidas através do intestino, enquanto as trivalentes são mais solúveis nas membranas lipídicas.

Todos os compostos de As são bem absorvidos por via parental, em 24 horas. A toxicidade resulta essencialmente da absorção dérmica, embora a inalação possa provocar sintomas severos de intoxicação, quando a exposição é crónica.

Efeitos tóxicos

O arsénio é um elemento amplamente distribuído pela natureza cuja toxidade depende das diferentes formas químicas e dos estados de oxidação.

A ingestão de grandes doses deste composto conduz a sintomas gastrointestinais (G.I.), a perturbações cardiovasculares e das funções do sistema nervoso e, eventualmente, à morte. Nos sobreviventes, pode verificar-se depressão da medula óssea, hemólise, melanose, hepatomegalia, polineuropatia e até mesmo encefalopatia.

Sabe-se que um período prolongado de exposição ao arsénio em águas de consumo está, eventualmente, relacionado com risco de cancro de pele, pulmões, bexiga e rim, assim como com outras alterações da pele e unhas tais como hiperqueratose, hiperpigmentação, dermatite esfoliativa e linhas transversais brancas nas unhas, denominadas “Mees – Aldrich”.

Carcinogenicidade

Vários estudos demonstraram que o As inorgânico pode aumentar o risco de cancro de pulmão, pele, bexiga, fígado e próstata. Considerando estes estudos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o As inorgânico como carcinogénio.

Há uma relação causal entre a exposição ao As e o cancro de pele que pode ser de 2 tipos:
- Carcinomas das células basais que produzem invasões locais;
- Carcinomas das células escamosas que podem originar metástases à distância.

Verificou-se também relação directa entre a inalação de As e o cancro de pulmão e a ingestão oral e o cancro de órgãos internos.

O mecanismo de carcinogenicidade do As ainda não foi estabelecido apesar de ser conhecido que o As inorgânico e os seus metabolitos provocam mutações e alterações cromossomais. Há ainda a possibilidade, não confirmada, de causar metilação do DNA e stress oxidativo.

Estudos similares para o As orgânico deram resultados negativos pelo que se presume que não seja carcinogénio.

Teratogenicidade

Em animais, a elevada exposição ao As provoca diversas mal formações fetais, estando comprovada a sua teratogenicidade.

No entanto, esses efeitos não foram detectados em humanos. Apesar do As atravessar com facilidade a barreira placentária, verifica-se que, durante a gravidez, a metilação deste composto está aumentada, o que diminui a sua toxicidade. Estes dados são sustentados pela maior quantidade de ADA na urina e plasma de mulheres grávidas em relação às não grávidas.

Assim, a exposição excessiva ao As não parece ter qualquer efeito nefasto sobre a reprodução.

Os efeitos observados nas crianças são semelhantes aos detectados nos adultos, apresentando sintomatologia idêntica.

 

Esta página usa cookies para lhe proporcionar uma melhor experiência. Ao continuar está a consentir a sua utilização.