Staphylococcus aureus
As intoxicações causadas por Staphylococcus aureus resultam da ingestão de uma toxina pré-formada em alimentos contaminados com este microrganismo. Apesar destas intoxicações não serem particularmente severas, são muito frequentes, podendo ocorrer isoladamente ou em surtos.

O primeiro relato de uma intoxicação alimentar causada por Staphylococcus foi provavelmente apresentado por Vaughan e Sternberg em 1884. No entanto, só em 1914 Barber demonstrou de forma clara a intoxicação estafilocócica resultante do consumo de leite cru proveniente de uma vaca com mastite (Barber 1914).

O significado deste trabalho não foi valorizado até que em 1930 Dack e os seus colaboradores "redescobrem" a intoxicação por Staphylococcus (Dack et al. 1930) demonstrando que o filtrado esterilizado de uma cultura de estafilococos isolado de um alimento teria causado o aparecimento de sintomas típicos de intoxicação alimentar em voluntários humanos.

Características gerais

S. aureus é uma bactéria Gram-positiva pertencente à família Micrococcaceae. As células têm a forma de cocos, apresentam-se frequentemente agrupados em cacho e são imóveis. Quando em condições favoráveis, produz toxinas - enterotoxinas - que são o agente responsável pela intoxicação alimentar.

Estas toxinas são proteínas hidrosolúveis e termoresistentes, mantendo a sua actividade mesmo após a pasteurização. A destruição da enterotoxina obtém-se pelo tratamento a 100ºC durante pelo menos 30 minutos.

As condições que permitem o seu crescimento e sobrevivência são as seguintes:

# Temperatura

S. aureus consegue crescer em ambientes com temperaturas entre 7 e 46ºC e tem uma temperatura óptima de crescimento (temperatura à qual a taxa específica de crescimento é máxima) entre 35 e 37ºC. A produção de enterotoxina ocorre a temperaturas entre 10 e 45ºC.

S. aureus é resistente a ciclos de congelação/descongelação e sobrevive durante períodos alargados em alimentos armazenados a temperaturas inferiores a -20ºC. A bactéria em si é destruída pela pasteurização, mas as enterotoxinas já formadas são resistentes aos processos térmicos, incluindo os regimes utilizados para esterilizar enlatados de baixa-acidez.

# pH

S. aureus consegue crescer em ambientes com valores de pH entre 4,5 e 9,3 e apresenta uma taxa específica de crescimento máxima em ambientes com valores de pH entre 6,0 e 7,0. A produção de enterotoxina ocorre em ambientes com valores de pH entre 5,2 e 9,0.

# Actividade da água (aw)

S. aureus é uma bactéria reconhecida pela sua elevada osmotolerância o que lhe permite crescer em ambientes com uma aw superior a 0,86 e com uma concentração de NaCl entre 5 e 7% (algumas estirpes crescem a concentrações de NaCl de 20%). A produção de enterotoxina ocorre em ambientes em que as concentrações de NaCl se situam entre 0-20% e em que os valores de aw são superiores a 0,87.

# Relação com o oxigénio

S. aureus é uma bactéria anaeróbia facultativa (cresce em presença ou na ausência de oxigénio), mas a toxina não é produzida em condições de anaerobiose.

# Irradiação

As radiações ionizante e não ionizante (por exemplo UV) são eficazes na destruição de S. aureus mas as enterotoxinas são resistentes aos tratamentos por irradiação aplicáveis a alimentos.

Outras espécies de Staphylococcus

Para além de S. aureus existem cerca de 30 outras espécies pertencentes ao género Staphylococcus, algumas das quais também produtoras de enterotoxinas, como são os casos de S. hyicus e S. intermedius.

Principais fontes de contaminação

Embora S. aureus esteja naturalmente presente nas membranas mucosas de todos os animais de sangue quente, os humanos são a principal fonte de estirpes produtoras de enterotoxinas. Estima-se que cerca de 40% dos indivíduos saudáveis sejam portadores assintomáticos da bactéria na nasofaringe. A transmissão a alimentos ocorre principalmente através da manipulação. As feridas infectadas são também veículo de contaminação de alimentos.

As vacas leiteiras também podem ser uma fonte de S. aureus, nomeadamente através do leite produzido por animais com mastite. Em certas situações a carne de vaca crua também pode representar um perigo.

S. aureus pode ainda colonizar equipamentos de produção ou de confecção de alimentos em zonas mais difíceis de limpar.

Alimentos mais frequentemente associados a intoxicações por S. aureus

Dado que S. aureus não tem uma grande capacidade de competição com outros microrganismos, os alimentos que geralmente estão associados a intoxicações causadas por esta bactéria são aqueles que foram manipulados após o processamento e sujeitos a temperaturas de armazenamento entre 10 e 45ºC antes do consumo.

Como exemplo podem-se referir os alimentos com recheios de carne, as saladas preparadas com ovo ou marisco, os bolos com recheio, o fiambre e os gelados. Vários surtos foram ainda atribuídos ao consumo de queijo.

Principais sintomas da intoxicação por S. aureus

Os sintomas de intoxicação por S. aureus surgem, dependendo da quantidade de toxina ingerida, entre 1 e 7 horas após o consumo do alimento contaminado. Considera-se que S. aureus tem que estar presente numa concentração mínima de 105-106 por grama de alimento para que exista uma quantidade de toxina suficiente para causar doença, i.e., entre 0,1 e 1 micrograma.

Os sintomas mais comuns são náuseas e vómitos, por vezes acompanhados por diarreia e dores abdominais. A evolução clínica é, regra geral, favorável e os sintomas desaparecem normalmente ao fim de 48h.

Grupos de risco

Os sintomas são mais severos em crianças, em idosos e em indivíduos imunodeprimidos.

Prevenção da contaminação

A prevenção das intoxicações alimentares por S. aureus deve ter por base o cumprimento de 3 requisitos: 1) manutenção de elevados padrões de higiene; 2) a redução do manuseamento dos alimentos e 3) o controlo da temperatura.

Dado que este microrganismo tem uma distribuição ubiquitária e que uma grande percentagem dos manipuladores pode ser potencialmente portadora, a higiene pessoal e o cumprimento das boas práticas são requisitos fundamentais para prevenir a contaminação de alimentos.

Em alimentos manipulados, o controlo de temperatura pós-processo é essencial para assegurar que, quando está presente em baixas concentrações, S. aureus não se multiplica nem produz toxinas.

 

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