A Alemanha tem quatro milhões de muçulmanos, mas o mercado de alimentos halal - produzidos de acordo com a lei islâmica - ainda está em sua infância, em parte porque as empresas temem a cólera dos grupos de defesa dos direitos dos animais. Mas as companhias estão lentamente acordando para este mercado de rápido crescimento.
Gehlenberg é um vilarejo pacato no norte da Alemanha. Tem uma população de 1.600 pessoas, uma igreja, um centro comunitário, um memorial de guerra e um bar, além de algumas cruzes de madeira na beira da estrada e uma minúscula capela. É um vilarejo católico fiel, mas durante três dias da semana, é o profeta Mohammad quem dita as leis por aqui - dentro do prédio branco de uma fábrica nas imediações do vilarejo. É lá que a empresa da família Meemken produz uma grande variedade de salsichas que seguem as normas de alimentação islâmicas. A companhia fornece quase 100 toneladas de salame e outros tipos de salsicha por semana para retalhistas/varejistas da Alemanha e de fora do país.
Companhias internacionais de alimentos como a Nestlé e a Unilever vêm oferecendo há alguns anos uma variedade de produtos que seguem as normas halal para os alimentos. Halal é um termo árabe que significa puro ou permitido. O termo se refere a um estilo de vida que segue lei islâmica. Companhias alemãs estão percebendo gradualmente que fornecer alimentos para o consumo orientado pela fé é uma boa maneira de fazer dinheiro. Nesses tempos de crise económica, descobrir novos mercados é mais tentador do que nunca.
O mercado potencial para os alimentos halal na Alemanha é imenso. Cerca de quatro milhões de muçulmanos vivem no país, e a comunidade deve crescer mais ainda porque os muçulmanos têm uma taxa de natalidade maior do que a dos demais grupos. Os alimentos halal respondem por 17% do mercado global de alimentos, de acordo com o World Halal Forum na Malásia.
Produtores temem grupos de defesa dos animais
Especialistas do mercado dizem que o segmento halal está crescendo mais rapidamente do que qualquer outro do mercado de alimentos. As vendas de alimentos que seguem os padrões islâmicos devem atingir US$ 641 biliões (R$ 1,12 triliões) em 2010, em comparação aos US$ 587 biliões (R$ 1,03 trilião) em 2004. O mercado de alimentos halal na Europa deve atingir US$ 67 biliões (R$ 117 biliões) em vendas em 2010.
Companhias de alimentos de outros países europeus que têm muitos habitantes muçulmanos já se adaptaram às suas necessidades. Na França, a rede de supermercados Casino oferece produtos de carne halal. Na Inglaterra, alimentos halal são facilmente encontrados em grandes cadeias como Tesco e Sainsbury's. Mercearias francesas vendem patê de fígado de ganso halal e a rede de farmácias britânica Boots vende comida halal para bebés.
Na Alemanha, onde os supermercados oferecem uma pequena variedade de alimentos halal, a história é outra. Muitos vendedores relutam em matar animais de acordo com as normas islâmicas porque temem ter problemas com grupos de protecção aos animais.
A lei alemã proíbe a matança de animais que não tenham sido anestesiados antes. Para a maioria dos muçulmanos, um animal anestesiado já está morto, e o Alcorão proíbe o consumo de cadáveres. Para contornar o problema, muitos produtores halal alemães buscam a carne fora do país.
Mas a matança ritual de animais também é controversa dentro da comunidade muçulmana. "É preciso levar em conta a época em que as normas do profeta foram escritas, e não seguir cegamente as regras tradicionais", diz Yusuf Calkara, do Instituto Europeu de Certificação Halal em Hamburgo. Mas outros certificadores são mais rígidos. "A carne processada industrialmente nunca é halal", diz Mahmoud Tatari, do Halal Control na cidade de Rüsselsheim, no oeste da Alemanha. De acordo com as normas islâmicas, os animais não devem sofrer stress ou agonia, e a produção em massa não atende a essas exigências, diz ele.
Gravação para Allah
Os certificadores também tem diferentes normas quanto à exigência de que os açougueiros devem chamar pelo nome de Allah ao matarem cada animal. Alguns dizem que é suficiente que o chamado seja uma gravação, desde que um muçulmano a coloque para tocar. Os devotos muçulmanos da Alemanha não concordaram ainda em relação a uma padronização uniforme para os alimentos halal. Como os fieis islâmicos da Alemanha pertencem a diferentes organizações, não há um órgão de fiscalização geral para oferecer uma certificação halal aceita por todos. Como resultado, há um grande mercado de certificadores que controlam a matéria-prima, o processo de produção, as normas de higiene e os fornecedores.
Meemken, o fabricante de salsichas no norte da Alemanha, passou com sucesso na auditoria halal. Seus 60 produtos já respondem por metade de sua produção total. A firma fornece principalmente para retalhistas/varejistas fora da Alemanha, mas recentemente acrescentou a rede Netto alemã à sua lista de clientes.
Nos dias em que os alimentos halal são produzidos, as máquinas são meticulosamente limpas para remover qualquer vestígio de carne de porco e evitar assim que ela vá parar nas salsichas halal. A companhia planeia instalar uma nova máquina para que a comida halal seja produzida separadamente no futuro. "Vamos definitivamente expandir este segmento", diz o director administrativo Rolf Meemken. "Estamos registando um crescimento desproporcionalmente forte com o halal."
O produtor de aves Wiesenhof teve seus produtos certificados como halal durante anos. Mas fica a critério dos retalhistas/varejistas decidirem se rotulam seus produtos como halal ou não. "As companhias alemãs são muito cautelosas", diz Levent Akgül, da agência de marketing étnico Akkar Media, em Hanover. "Eles não conhecem a cultura diferente e não podem calcular os riscos". Além disso, os retalhistas/varejistas de alimentos da Alemanha temem que colocar produtos halal nas prateleiras das lojas afaste os consumidores de alimentos não halal, diz Akgül. A publicidade de produtos halal na Alemanha ainda é um tabu para muitas companhias alemãs, diz ele.
Crescimento desproporcional dos alimentos halal
Não por muito tempo, entretanto. "É impossível deter a tendência halal", diz Peter Grothues, chefe do setor alimentício na feira de comércio de Colónia, onde mais de 800 produtores de alimentos halal exibirão seus produtos no final deste mês. A maioria deles são companhias estrangeiras que vêm exportando para a Alemanha há anos. Agora seus produtos ainda estão confinados a pequenas lojas turcas nas cidades alemãs. "Mas o halal está se tornando um pilar cada vez mais importante do sector", diz a Associação Federal de Retalhistas/Varejistas de Alimentos da Alemanha.
Isso não surpreende, uma vez que os descendentes de turcos na Alemanha têm um poder aquisitivo estimado em 20 biliões de euros (R$ 51 biliões) por ano. A Nestlé já ganha mais com produtos halal do que com alimentos orgânicos.
Os alimentos halal não são somente salsichas ou carne. Todos os alimentos podem ser halal, desde o queijo sem enzimas animais até biscoitos, ervas e café, desde que os produtores limpem suas máquinas com detergentes que não contenham álcool.
"O mercado halal está longe de estar saturado", diz Derya Altay, da Federação Alemã de Varejistas e Grossistas/Atacadistas Turcos. "Quando os consumidores alemães podem escolher inúmeras marcas, os muçulmanos só podem escolher entre duas ou três." A indústria alemã fará a coisa certa se ampliar seus horizontes e abraçar o mercado halal, diz ele.
Companhias internacionais de alimentos como a Nestlé e a Unilever vêm oferecendo há alguns anos uma variedade de produtos que seguem as normas halal para os alimentos. Halal é um termo árabe que significa puro ou permitido. O termo se refere a um estilo de vida que segue lei islâmica. Companhias alemãs estão percebendo gradualmente que fornecer alimentos para o consumo orientado pela fé é uma boa maneira de fazer dinheiro. Nesses tempos de crise económica, descobrir novos mercados é mais tentador do que nunca.
O mercado potencial para os alimentos halal na Alemanha é imenso. Cerca de quatro milhões de muçulmanos vivem no país, e a comunidade deve crescer mais ainda porque os muçulmanos têm uma taxa de natalidade maior do que a dos demais grupos. Os alimentos halal respondem por 17% do mercado global de alimentos, de acordo com o World Halal Forum na Malásia.
Produtores temem grupos de defesa dos animais
Especialistas do mercado dizem que o segmento halal está crescendo mais rapidamente do que qualquer outro do mercado de alimentos. As vendas de alimentos que seguem os padrões islâmicos devem atingir US$ 641 biliões (R$ 1,12 triliões) em 2010, em comparação aos US$ 587 biliões (R$ 1,03 trilião) em 2004. O mercado de alimentos halal na Europa deve atingir US$ 67 biliões (R$ 117 biliões) em vendas em 2010.
Companhias de alimentos de outros países europeus que têm muitos habitantes muçulmanos já se adaptaram às suas necessidades. Na França, a rede de supermercados Casino oferece produtos de carne halal. Na Inglaterra, alimentos halal são facilmente encontrados em grandes cadeias como Tesco e Sainsbury's. Mercearias francesas vendem patê de fígado de ganso halal e a rede de farmácias britânica Boots vende comida halal para bebés.
Na Alemanha, onde os supermercados oferecem uma pequena variedade de alimentos halal, a história é outra. Muitos vendedores relutam em matar animais de acordo com as normas islâmicas porque temem ter problemas com grupos de protecção aos animais.
A lei alemã proíbe a matança de animais que não tenham sido anestesiados antes. Para a maioria dos muçulmanos, um animal anestesiado já está morto, e o Alcorão proíbe o consumo de cadáveres. Para contornar o problema, muitos produtores halal alemães buscam a carne fora do país.
Mas a matança ritual de animais também é controversa dentro da comunidade muçulmana. "É preciso levar em conta a época em que as normas do profeta foram escritas, e não seguir cegamente as regras tradicionais", diz Yusuf Calkara, do Instituto Europeu de Certificação Halal em Hamburgo. Mas outros certificadores são mais rígidos. "A carne processada industrialmente nunca é halal", diz Mahmoud Tatari, do Halal Control na cidade de Rüsselsheim, no oeste da Alemanha. De acordo com as normas islâmicas, os animais não devem sofrer stress ou agonia, e a produção em massa não atende a essas exigências, diz ele.
Gravação para Allah
Os certificadores também tem diferentes normas quanto à exigência de que os açougueiros devem chamar pelo nome de Allah ao matarem cada animal. Alguns dizem que é suficiente que o chamado seja uma gravação, desde que um muçulmano a coloque para tocar. Os devotos muçulmanos da Alemanha não concordaram ainda em relação a uma padronização uniforme para os alimentos halal. Como os fieis islâmicos da Alemanha pertencem a diferentes organizações, não há um órgão de fiscalização geral para oferecer uma certificação halal aceita por todos. Como resultado, há um grande mercado de certificadores que controlam a matéria-prima, o processo de produção, as normas de higiene e os fornecedores.
Meemken, o fabricante de salsichas no norte da Alemanha, passou com sucesso na auditoria halal. Seus 60 produtos já respondem por metade de sua produção total. A firma fornece principalmente para retalhistas/varejistas fora da Alemanha, mas recentemente acrescentou a rede Netto alemã à sua lista de clientes.
Nos dias em que os alimentos halal são produzidos, as máquinas são meticulosamente limpas para remover qualquer vestígio de carne de porco e evitar assim que ela vá parar nas salsichas halal. A companhia planeia instalar uma nova máquina para que a comida halal seja produzida separadamente no futuro. "Vamos definitivamente expandir este segmento", diz o director administrativo Rolf Meemken. "Estamos registando um crescimento desproporcionalmente forte com o halal."
O produtor de aves Wiesenhof teve seus produtos certificados como halal durante anos. Mas fica a critério dos retalhistas/varejistas decidirem se rotulam seus produtos como halal ou não. "As companhias alemãs são muito cautelosas", diz Levent Akgül, da agência de marketing étnico Akkar Media, em Hanover. "Eles não conhecem a cultura diferente e não podem calcular os riscos". Além disso, os retalhistas/varejistas de alimentos da Alemanha temem que colocar produtos halal nas prateleiras das lojas afaste os consumidores de alimentos não halal, diz Akgül. A publicidade de produtos halal na Alemanha ainda é um tabu para muitas companhias alemãs, diz ele.
Crescimento desproporcional dos alimentos halal
Não por muito tempo, entretanto. "É impossível deter a tendência halal", diz Peter Grothues, chefe do setor alimentício na feira de comércio de Colónia, onde mais de 800 produtores de alimentos halal exibirão seus produtos no final deste mês. A maioria deles são companhias estrangeiras que vêm exportando para a Alemanha há anos. Agora seus produtos ainda estão confinados a pequenas lojas turcas nas cidades alemãs. "Mas o halal está se tornando um pilar cada vez mais importante do sector", diz a Associação Federal de Retalhistas/Varejistas de Alimentos da Alemanha.
Isso não surpreende, uma vez que os descendentes de turcos na Alemanha têm um poder aquisitivo estimado em 20 biliões de euros (R$ 51 biliões) por ano. A Nestlé já ganha mais com produtos halal do que com alimentos orgânicos.
Os alimentos halal não são somente salsichas ou carne. Todos os alimentos podem ser halal, desde o queijo sem enzimas animais até biscoitos, ervas e café, desde que os produtores limpem suas máquinas com detergentes que não contenham álcool.
"O mercado halal está longe de estar saturado", diz Derya Altay, da Federação Alemã de Varejistas e Grossistas/Atacadistas Turcos. "Quando os consumidores alemães podem escolher inúmeras marcas, os muçulmanos só podem escolher entre duas ou três." A indústria alemã fará a coisa certa se ampliar seus horizontes e abraçar o mercado halal, diz ele.
{hwdvs-player}id=505|height=262|width=350{/hwdvs-player} {hwdvs-player}id=503|height=262|width=350{/hwdvs-player} {hwdvs-player}id=504|height=262|width=350{/hwdvs-player}
Comentários: