Vergonha no CascaiShopping
Sempre foi um expediente fácil, mas nunca como hoje esteve tanto na moda matar o mensageiro. Dito de outra forma, quando faltam outros culpados, ou não se consegue dar dois murros em quem merece, malha-se no jornalista.

Escândalos financeiros, suspeitas de pedofilia, políticos que se insultam, negócios mal explicados. Quando começam a faltar argumentos, lá vem, inevitavelmente, a ideia de que a comunicação social é que inventa, ou pelo menos “amplifica” coisas “insignificantes”, até à chamada “manipulação dos factos”. A sociedade, pejada de malfeitores, surge assim como uma associação de virgens inocentes, perseguidas pelos mauzões dos jornalistas. Está de tal forma instituída (e aceite) esta normalização, que é perfeitamente aceitável que o próprio Presidente da República, num momento que deveria ser de festa, unidade e futuro, tenha escolhido apontar o dedo aos jornalistas, numa declaração de vingança (eles que digam quem lhes encomendou notícias, etc). É sob este cenário que se deve entender como é possível o que passou no CascaisShoping com uma equipa da SIC.

A ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) interveio no centro, uma vez que estavam a ser efectuadas obras no tecto da zona de restauração sem acautelar a segurança e a higiene. Por outras palavras, um tecto em obras, com o respectivo perigo e poluição, e por cima das cabeças dos comensais, uns panitos de lona, a fingir que resolviam o problema. Sabendo disso, a SIC enviou uma equipa para o local. Para que saiba como se processam estas coisas, registe que só poderíamos ter acesso à zona (o que aconteceu) com a devida autorização da administração do Shopping, o que aconteceu. Parecia uma colaboração com a reportagem. Pensávamos nós que o passo seguinte seria termos presente alguém do Shopping a dizer de sua justiça, explicar porque tinham avançado para aquela obra sem acautelar segurança e higiene de quem passa por ali, etc. Qual não é nosso primeiro espanto quando, já a filmarmos no local, vem a informação de que ninguém do Shoping fará declarações aos jornalistas. Nós fazemos sempre questão de ouvir todas as partes envolvidas, mas…tudo bem. Faça-se então a reportagem com o que há: imagens que demonstram as condições e obter depoimentos de pessoas que por ali andam, as chamadas testemunhas. É neste momento que começa a palhaçada, ou a vergonha, como lhe quiserem chamar.

A repórter da SIC aproxima-se de uma senhora, começa a entrevistá-la, e de repente, literalmente no meio de ambas, coloca-se um segurança do centro. O segurança não “faz” nada, ou seja, não diz à repórter que não pode entrevistar a senhora, não aconselha a senhora a não falar, não afasta a câmara, não faz um gesto. Ou melhor, faz, e o pior de todos: a sua missão é tornar a entrevista impossível com o seu corpo, ainda por cima de dimensões razoáveis, como é costume na sua profissão. Seguem-se minutos ridículos, que até poderiam fazer rir, se não fossem tão graves. A senhora anda de um lado para o outro a tentar aproximar-se do nosso microfone, a nossa repórter tenta segui-la. Em todos estes momentos, o segurança acompanha, mantendo-se sempre à frente, mesmo ouvindo a senhora dizer bem alto que quer “falar à reportagem”. O homem levava a lição bem estudada, porque a determinado momento, quando a nossa repórter o interpela directamente sobre a sua atitude, diz “não me toque, que eu também não estou a tocar”. Pois. Só que não acrescenta que estando à nossa frente, encostado à câmara, qualquer movimento que façamos para tentar chegar a qualquer pessoa, será difícil não lhe “tocarmos”, que é exactamente o que pretende, porque deve ter tido o aconselhamento “jurídico” da administração do centro. De tudo o que é grave e patético, é das situações mais abomináveis a que pude assistir.

É uma vergonha para qualquer estabelecimento, que não empregou metade desta energia provocatória numa atitude civilizada de empresa séria: explicar porque fazem obras assim e se procurarão não as fazer no futuro.

Fonte Activa 02-02-2011

 

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