Radioactividade encontrada em alimentos e na água de Tóquio
O leite e os espinafres produzidos nas proximidades da central nuclear de Fukushima apresentaram níveis de radioactividade anormalmente elevados. E em Tóquio, a água canalizada também já contém substâncias radioactivas. Esta foi a primeira confirmação oficial de que a radioactividade resultante do acidente nas centrais afectou a cadeia alimentar.

O Governo tentou ao máximo evitar o pânico, garantindo aos japoneses que as taxas de radioactividade encontradas não chegam a ser perigosas para a saúde.

Mas a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) afirmou que o executivo está a estudar a proibição da venda de todos os alimentos provenientes de Fukushima devido a um elemento radioactivo que poderá apresentar riscos para a saúde, adianta a Reuters.

"Apesar de o iodo radioactivo ter um tempo de vida curto de cerca de oito dias e decair naturalmente em semanas, há um risco de curto prazo para a saúde humana se o iodo radioactivo nos alimentos for absorvido pelo corpo humano", disse a AIEA num comunicado. "Se for ingerido, pode ser acumulado e causar danos na tiróide. Crianças e jovens estão particularmente em risco."

Ontem, os inspectores alimentares concluíram que a quantidade de iodo 131 encontrada no leite era cinco vezes superior aos níveis considerados seguros, e sete vezes mais elevada no caso dos espinafres, que também continham césio 137 em níveis acima do recomendado.

O ministro porta-voz do Governo, Yukio Edano, veio informar que há níveis altos naqueles produtos, mas relativizou: "Mesmo que alguém comece a beber leite contaminado durante um ano, a dose de radiações que recebe será equivalente a um único scanner hospitalar. Para os espinafres, este nível "será equivalente a um quinto da dose recebida num scanner" e "não constituem um risco imediato para a saúde". Por isso, Edano lança um pedido: "Por favor, fiquem calmos".

Quanto à água que corre nas torneiras em Tóquio (250 quilómetros a sul de Fukushima), Tochigi, Gunma, Saitama, Chiba e Niigata, há também vestígios de contaminação, mas as doses são ainda inferiores ao tecto estabelecido pela legislação, segundo o Ministério da Ciência, citado pela agência Kyodo. "O ministério mediu a qualidade da água corrente durante o dia de sábado e foram detectados vestígios de iodo radioactivo e de césio", explicou à AFP um responsável, encarregue das análises.

O iodo 131 e o césio 137 são dois dos elementos mais perigosos que se teme terem sido libertados da central, explica o New York Times. O primeiro pode ser perigoso para a saúde humana, especialmente se tiver sido absorvido através do leite ou produtos lácteos, porque pode ser acumulado pela tiróide e provocar cancro. O césio 137 pode danificar células e levar a maior risco cancerígeno.

AIEA fará testes em Tóquio

Os alimentos contaminados são mais um problema a adicionar à tragédia que se abateu sob a população japonesa desde que no dia 11 um sismo de escala 9 no Nordeste do país provocou um tsunami e causou danos dramáticos nas centrais nucleares da região - ontem ainda não estava controlada a situação na central de Fukushima 1 (ver texto ao lado).

O temor das fugas de radioactividade levou à saída de 200 mil pessoas da região. As autoridades afirmam que os níveis de radiação no ar não são perigosos para além de um raio de 30 quilómetros a partir da central. A AIEA informou, por seu lado, que irá efectuar os seus próprios testes em Tóquio, distintos dos do Governo, para acabar com as desconfianças.

Depois da forma como o executivo de Naoto Kan respondeu à crise nuclear - dando informações a conta-gotas, ou não dando de todo - as reservas são muitas e não são fáceis de apaziguar.

Depois de ouvir Edano, Katsuko Sato, de 76 anos, afirmou que iria deixar de comprar espinafres e telefonou a toda a família para que faça o mesmo. "Tudo aquilo que estamos a passar é bem mais assustador que os ataques da II Guerra Mundial", disse ao NYT. "Não acredito no Governo porque não acho que apenas os espinafres de Ibaraki tenham sido afectados".

Para acalmar receios como o de Katsuko Sato - num país particularmente atento à higiene e à segurança alimentar -, as autoridades estão a pôr a hipótese de conduzir mais testes a outros produtos agrícolas em áreas mais distantes dos reactores danificados, adiantava a AFP. Também vão ser criados mais tectos legais sobre os níveis de radioactividade aceites para vários tipos de alimentos.

De acordo com as autoridades, nenhum do leite contaminado terá saído das três produções em Fukushima que apresentaram níveis mais altos de radioactividade; e está ainda por determinar se os espinafres deixaram as plantações do distrito de Ibaraki, onde a contaminação foi detectada.

Como medida preventiva, as autoridades de Ibaraki ordenaram aos produtores que suspendam a produção e impeçam as distribuições. O operador da central nuclear, Tepco, fez saber que lamenta os danos causados e está disponível para indemnizar os agricultores.

Ainda antes da comunicação do executivo, já vários países optaram por suspender a compra de produtos alimentares japoneses. Foi o caso de Singapura e Índia. A União Europeia recomendou um controlo aos alimentos que vierem do Japão.

Fonte Público 20-03-2010
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