Após três anos em quebra, a produção de carne aumentou em 2014. Comerciantes temem que o alerta da Organização Mundial de Saúde provoque crise no setor.
As autoridades portuguesas vão analisar os alertas sobre a carne processada e a carne vermelha feitos pela Organização Mundial da Saúde, numa reunião extraordinária agendada para hoje pela Comissão de Segurança Alimentar (CSA). Na sequência da classificação das carnes processadas como cancerígenas, doze membros de diferentes entidades - entre as quais o Ministério da Economia, a ASAE e a Direção-Geral da Saúde - vão debater o assunto e eventuais medidas que garantam a segurança dos produtos à venda no país.
A notícia surgiu na segunda-feira e deixou Portugal em alerta. A Agência Internacional para a Investigação do Cancro, que pertence à OMS, incluiu as carnes processadas, como as salsichas, o bacon e os enchidos, no grupo das substâncias carcinogénicas, por considerar que existem provas de que causam cancro. E segundo o mesmo documento existe a probabilidade de as carnes vermelhas também o causarem.
O artigo mereceu a atenção das autoridades portuguesas, que se reúnem hoje para o estudar, após uma convocatória do secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar, Nuno Vieira e Brito, presidente da CSA. Criada em 2014, a comissão tem, entre outras, as missões de emitir pareceres relativos à segurança dos alimentos e "propor, em casos específicos, as medidas necessárias para garantir que não sejam colocados no mercado" produtos "não seguros".
v Contactado pelo DN, o Ministério da Saúde informou que "acompanha, através dos seus técnicos, os riscos de saúde pública e não deixará de continuar a analisar a informação que vai chegando." Para o setor, estas notícias podem ter um impacto bastante negativo. "Estamos à espera de algo muito mau para a economia nacional e europeia", destacou ao DN Marinela Lourenço, presidente da Federação Nacional das Associações de Comerciantes de Carne.
Entre 2010 e 2013, a produção de carne de animais de talho (vaca, vitela, novilho, carneiro, porco e cavalo) desceu de aproximadamente 521 mil toneladas para 470 mil. Contudo, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, subiu para as 481 mil toneladas no ano passado. "O setor, que esteve em quebra devido à falta de dinheiro das famílias, estava a recuperar. Embora lenta, havia uma progressão, que pode ser arrasada por estas notícias", sublinhou Marinela Lourenço. Só na Área Metropolitana de Lisboa, a representante contabiliza 658 comerciantes de carne, estimando que "50% das empresas sejam afetadas."
Entretanto, o diretor-geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), José Manuel Esteves, pediu, ontem, que o relatório da OMS seja encarado "tranquilamente e sem pânico", que seja visto "como uma chamada de atenção." Também a Direção--Geral da Saúde considera que não há razões para alarmes. "A alimentação deve ser o mais saudável e equilibrada possível e isso passa por não cometer exageros", disse ao DN Graça Freitas, subdiretora-geral da Saúde. Não será o consumo de presunto duas vezes por mês, explica, que aumentará o risco de cancro. O risco "está relacionado com as doses e com a frequência."
José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos, diz que estes estudos não trazem novidade. "Já sabíamos que as carnes processadas tinham um efeito negativo para a saúde. A solução é comer menos. Comemos proteínas em excesso. Se há efeitos cancerígenos, temos de comer produtos que, pelo contrário, reduzam os efeitos nocivos, como as verduras e as frutas." Avisa, no entanto, que não faz sentido "nenhuma obsessão nem fundamentalismo. É importante variar. Comer coisas de todas as cores".
Na sequência do alerta feito pela OMS, o porta-voz da Comissão Europeia garantiu, ontem, que, na União Europeia, os alimentos, incluindo a carne, "respeitam os mais altos padrões de segurança alimentar." Enrico Brivio adiantou que o documento vai ser avaliado "cuidadosamente" por "alguns especialistas" e a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar "também, de certeza, que terá o estudo em consideração."
Ontem, o ministro da Agricultura da Austrália, um dos maiores exportadores de carne a nível mundial - a par com o Canadá, os Estado Unidos, o México e a Nova Zelândia -, ridicularizou o relatório, dizendo que é uma "farsa" comparar a carne processada ao tabaco.
Fonte: DN 28-10-2015
A notícia surgiu na segunda-feira e deixou Portugal em alerta. A Agência Internacional para a Investigação do Cancro, que pertence à OMS, incluiu as carnes processadas, como as salsichas, o bacon e os enchidos, no grupo das substâncias carcinogénicas, por considerar que existem provas de que causam cancro. E segundo o mesmo documento existe a probabilidade de as carnes vermelhas também o causarem.
O artigo mereceu a atenção das autoridades portuguesas, que se reúnem hoje para o estudar, após uma convocatória do secretário de Estado da Alimentação e da Investigação Agroalimentar, Nuno Vieira e Brito, presidente da CSA. Criada em 2014, a comissão tem, entre outras, as missões de emitir pareceres relativos à segurança dos alimentos e "propor, em casos específicos, as medidas necessárias para garantir que não sejam colocados no mercado" produtos "não seguros".
v Contactado pelo DN, o Ministério da Saúde informou que "acompanha, através dos seus técnicos, os riscos de saúde pública e não deixará de continuar a analisar a informação que vai chegando." Para o setor, estas notícias podem ter um impacto bastante negativo. "Estamos à espera de algo muito mau para a economia nacional e europeia", destacou ao DN Marinela Lourenço, presidente da Federação Nacional das Associações de Comerciantes de Carne.
Entre 2010 e 2013, a produção de carne de animais de talho (vaca, vitela, novilho, carneiro, porco e cavalo) desceu de aproximadamente 521 mil toneladas para 470 mil. Contudo, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, subiu para as 481 mil toneladas no ano passado. "O setor, que esteve em quebra devido à falta de dinheiro das famílias, estava a recuperar. Embora lenta, havia uma progressão, que pode ser arrasada por estas notícias", sublinhou Marinela Lourenço. Só na Área Metropolitana de Lisboa, a representante contabiliza 658 comerciantes de carne, estimando que "50% das empresas sejam afetadas."
Entretanto, o diretor-geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), José Manuel Esteves, pediu, ontem, que o relatório da OMS seja encarado "tranquilamente e sem pânico", que seja visto "como uma chamada de atenção." Também a Direção--Geral da Saúde considera que não há razões para alarmes. "A alimentação deve ser o mais saudável e equilibrada possível e isso passa por não cometer exageros", disse ao DN Graça Freitas, subdiretora-geral da Saúde. Não será o consumo de presunto duas vezes por mês, explica, que aumentará o risco de cancro. O risco "está relacionado com as doses e com a frequência."
José Manuel Silva, bastonário da Ordem dos Médicos, diz que estes estudos não trazem novidade. "Já sabíamos que as carnes processadas tinham um efeito negativo para a saúde. A solução é comer menos. Comemos proteínas em excesso. Se há efeitos cancerígenos, temos de comer produtos que, pelo contrário, reduzam os efeitos nocivos, como as verduras e as frutas." Avisa, no entanto, que não faz sentido "nenhuma obsessão nem fundamentalismo. É importante variar. Comer coisas de todas as cores".
Na sequência do alerta feito pela OMS, o porta-voz da Comissão Europeia garantiu, ontem, que, na União Europeia, os alimentos, incluindo a carne, "respeitam os mais altos padrões de segurança alimentar." Enrico Brivio adiantou que o documento vai ser avaliado "cuidadosamente" por "alguns especialistas" e a Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar "também, de certeza, que terá o estudo em consideração."
Ontem, o ministro da Agricultura da Austrália, um dos maiores exportadores de carne a nível mundial - a par com o Canadá, os Estado Unidos, o México e a Nova Zelândia -, ridicularizou o relatório, dizendo que é uma "farsa" comparar a carne processada ao tabaco.
Fonte: DN 28-10-2015
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