Pastelarias vão acabar com as gorduras escondidas nos bolos
Empresas de panificação e pastelaria assinam hoje um protocolo com a Direção-Geral da Saúde e o INSA em que se comprometem a cortar nos chamados ácidos gordos trans. "Tecnicamente é a abolição destas gorduras", realça o Ministério da Saúde.

Os portugueses vão passar a comer menos gorduras artificiais nos bolos, ingredientes que aumentam os riscos de doenças cardiovasculares e cancro. A Direção-Geral da Saúde, o INSA e as empresas de panificação e pastelaria assinam hoje um acordo em que a indústria se compromete a reduzir os chamados ácidos gordos trans já nos próximos dois anos. "Tecnicamente", diz o Ministério da Saúde ao DN, estamos a falar da "abolição das gorduras trans destes produtos."

O protocolo que continua o trabalho que levou à redução do sal no pão determina que, até ao final do próximo ano, as empresas usem apenas um máximo de dois gramas destes ácidos em cada cem gramas de gordura, e prevê uma meta ainda mais ambiciosa para 2020: menos de um grama por cada 100g de gordura. "O objetivo é melhorar o perfil nutricional dos portugueses, porque enquanto no caso do açúcar e do sal podemos consultar os valores nos rótulos nutricionais dos produtos e procurar outro melhor se não nos agradar, estes ingredientes estão escondidos, não estão obrigatoriamente nos rótulos", explica ao DN o diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), Pedro Graça.

O Ministério da Saúde anunciou em maio, durante a Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, que o governo iria iniciar um trabalho conjunto com todos os parceiros do setor alimentar com vista a eliminar a presença de ácidos gordos trans em Portugal. Isto depois de estudos recentes terem encontrado estes ingredientes na nossa cadeia alimentar. Numa investigação publicada em 2016, cientistas da Universidade do Porto detetaram níveis elevados de gordura trans em alimentos vendidos no nosso país, especialmente em bolachas e em produtos de pastelaria. Em alguns casos, o conteúdo destes ácidos dentro da gordura total chegava a ser de 30%.

Tendo em conta estes dados, a DGS aponta uma outra vantagem de saúde pública, dirigida para pessoas mais carenciadas, "que sabemos que muitas vezes trocam refeições saudáveis por produtos de pastelaria mais baratos". Ainda assim, Pedro Graça refere que a utilização destes ingredientes está "mais ou menos controlada" e que a grande preocupação é mesmo "a gordura total consumida pelos portugueses".

Os ácidos gordos trans são gorduras industriais artificiais, muito agressivas para as artérias. Mas por serem mais baratas são usadas no fabrico de pastelaria. A Organização Mundial da Saúde recomenda que a sua utilização seja reduzida, até deixarem mesmo de ser usadas. Esse é o objetivo da iniciativa REPLACE, eliminar os ácidos gordos trans industrializados nos alimentos até 2023.

Nova taxa fica na gaveta


A assinatura deste acordo afasta, para já, a criação de uma taxa sobre produtos com excesso de sal, como aconteceu com as bebidas açucaradas. Como o DN noticiou em maio, o governo continua a considerar importantes as mexidas nesta área, que foram rejeitadas no debate do Orçamento do Estado do ano passado, mas Pedro Graça admite que a hipótese de novas taxas não se coloca. Pelo menos para já. "Esse cenário está afastado, porque a indústria resolveu fazê-lo de forma voluntária. Vai haver monitorização do protocolo para saber se o acordo é cumprido, feita por uma empresa independente, com vigilância da DGS e do INSA. Se depois se perceber que não foi cumprido e caso o incumprimento seja reiterado, aí podemos equacionar novas taxas para levar a essa mudança."

Mas Pedro Graça espera que os objetivos sejam cumpridos, até porque notou "uma grande abertura da indústria". "Porque assim todos passam a jogar com as mesmas regras, o mercado torna-se mais justo e transparente. Estávamos, por exemplo, à espera de maior resistência em relação à lei do sal, mas a verdade é que as empresas foram elas próprias reduzindo o teor de sal ao longo dos anos."

Ministério quer dinamizar consumo de pão


Portugal tem desde 2009 uma lei que estabelece o limite máximo de teor de sal no pão (1,4 gramas de sal por cem gramas de pão), mas há menos de um ano estabeleceu novas metas com as Associações dos Industriais da Panificação, Pastelaria e Similares. A meta final aponta para um teor máximo de sal de um grama por cem gramas de pão.

"Temos sido tão bem-sucedidos nesta área que hoje o Ministério da Saúde quer dinamizar o consumo de pão", faz questão de sublinhar Pedro Graça, que enumera alguns dos benefícios desse consumo: "O pão é um alimento saudável, que não leva aditivos, engorda menos do que muitos outros produtos e dinamiza as comunidades locais."

Fonte: DN 11-07-2018

 

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