A revolução verde morreu. Os seus híbridos e variedades de alto rendimento permitiram aumentos significativos na produção de cultivos como o trigo. Mas a sua sequela de efeitos negativos não só não se extingue ainda, como se torna mais intensa.
O pacote tecnológico da revolução verde provocou uma forte salinização de solos, o esgotamento e sobrexploração de aquíferos e uma intensa contaminação com pesticidas de todo o tipo. O mais grave é que semeou a semente de uma crise económica, social e ambiental na vida de camponeses pobres que cobra mais vidas em cada ano. Um exemplo é o de Anil Khondwa Shinde, pequeno agricultor do distrito de Vidarba, estado de Maharashtra (na parte centro-ocidental da Índia). Suicidou-se ingerindo um potente insecticida. Tinha 31 anos e morreu em poucos minutos. A desproporção entre os custos de produção e o preço de venda não lhe permitiram pagar o crédito fornecido pelos provedores de insumos.
Um caso isolado? Nada disso. O Ministério da Agricultura da Índia reconhece os seguintes números: entre 1993 e 2003 ocorreram 100 mil suicídios de camponeses. E entre 2003 e 2006 (Outubro) deram-se uns 16 mil suicídios de camponeses em cada ano. Ao todo, entre 1993 e 2006 houve em torno de 150 mil suicídios de camponeses, 30 diários durante 13 anos!
O próprio governo de Maharashtra aceita o número de 1920 camponeses suicidados em Vidarba entre Janeiro de 2001 e Agosto de 2006. As organizações camponesas desse distrito afirmam que entre Junho de 2005 e Agosto de 2006 ocorreram 782 suicídios de produtores agrícolas. Para os últimos três meses, os dados indicam que em média houve um suicídio em cada oito horas.
Sob que condições se apresenta uma taxa de suicídios de uns 30 camponeses diários? Diz-se que a causa radica no endividamento, mas a razão última está na imposição de uma tecnologia agrícola completamente inadequada, tanto do ponto de vista económico, como ambiental.
Anil Shinde tinha decidido semear algodão Bt, um transgénico produzido pela Monsanto, que supostamente reduz a necessidade de pesticidas e aumenta a rentabilidade do produtor. Shinde não é uma excepção. Centenas de camponeses que semearam algodão transgénico nos estados de Maharashtra, Andra Pradesh e Karnataka procuraram a saída do suicídio face a uma situação económica desesperada que piora ano após ano.
Um elemento importante nesta história é que o algodão Bt da Monsanto oferece alguma protecção contra o chamado verme do fruto (Helicoverpa zea), mas não contra outras pragas (por exemplo, Spodoptera) que afectam este cultivo comercial na Índia. Assim, os produtores que, como Shinde, recorreram ao algodão da Monsanto procurando reduzir o custo em pesticidas, apanharam uma surpresa, pois tiveram que continuar a aplicar estes insumos de qualquer modo. Pior ainda: a armadilha do endividamento caiu-lhes em cima mais depressa porque as sementes do algodão da Monsanto são mais caras.
Em muitos distritos os vendedores locais de antes foram substituídos pela rede de concessionários e vendedores de insumos das grandes companhias, e os seus métodos de cobrança pouco escrupulosos foram denunciados muitas vezes. Quando os suicídios se agudizaram, o governo lançou um programa de “ajuda” que assegurava o pagamento de uns 2 mil dólares para os familiares sobreviventes, mas esse dinheiro ía directo para os bolsos dos credores e, de facto, transformou-se num incentivo perverso para que muitos agricultores acabassem com a própria vida.
Graças à política de abertura promovida pelo governo, a superfície dedicada ao algodão transgénico em Vidarba passou de 0,4 % para 15 % em apenas três anos. Nesse período também aumentou a taxa de suicídios de agricultores.
Milhares de camponeses cuja forma de vida foi destruída ao caírem nas garras dos seus credores recorreram ao suicídio como única escapatória. No processo puseram a descoberto o falhanço de um projecto agrícola baseado em “soluções” tecnológicas com múltiplos efeitos negativos e relações sociais disfuncionais.
Por que não corrigir os danos da revolução verde em lugar de saltar a abraçar a tecnologia dos OGM?
Fonte: Adaptação do artigo de A. Nadal
Um caso isolado? Nada disso. O Ministério da Agricultura da Índia reconhece os seguintes números: entre 1993 e 2003 ocorreram 100 mil suicídios de camponeses. E entre 2003 e 2006 (Outubro) deram-se uns 16 mil suicídios de camponeses em cada ano. Ao todo, entre 1993 e 2006 houve em torno de 150 mil suicídios de camponeses, 30 diários durante 13 anos!
O próprio governo de Maharashtra aceita o número de 1920 camponeses suicidados em Vidarba entre Janeiro de 2001 e Agosto de 2006. As organizações camponesas desse distrito afirmam que entre Junho de 2005 e Agosto de 2006 ocorreram 782 suicídios de produtores agrícolas. Para os últimos três meses, os dados indicam que em média houve um suicídio em cada oito horas.
Sob que condições se apresenta uma taxa de suicídios de uns 30 camponeses diários? Diz-se que a causa radica no endividamento, mas a razão última está na imposição de uma tecnologia agrícola completamente inadequada, tanto do ponto de vista económico, como ambiental.
Anil Shinde tinha decidido semear algodão Bt, um transgénico produzido pela Monsanto, que supostamente reduz a necessidade de pesticidas e aumenta a rentabilidade do produtor. Shinde não é uma excepção. Centenas de camponeses que semearam algodão transgénico nos estados de Maharashtra, Andra Pradesh e Karnataka procuraram a saída do suicídio face a uma situação económica desesperada que piora ano após ano.
Um elemento importante nesta história é que o algodão Bt da Monsanto oferece alguma protecção contra o chamado verme do fruto (Helicoverpa zea), mas não contra outras pragas (por exemplo, Spodoptera) que afectam este cultivo comercial na Índia. Assim, os produtores que, como Shinde, recorreram ao algodão da Monsanto procurando reduzir o custo em pesticidas, apanharam uma surpresa, pois tiveram que continuar a aplicar estes insumos de qualquer modo. Pior ainda: a armadilha do endividamento caiu-lhes em cima mais depressa porque as sementes do algodão da Monsanto são mais caras.
Em muitos distritos os vendedores locais de antes foram substituídos pela rede de concessionários e vendedores de insumos das grandes companhias, e os seus métodos de cobrança pouco escrupulosos foram denunciados muitas vezes. Quando os suicídios se agudizaram, o governo lançou um programa de “ajuda” que assegurava o pagamento de uns 2 mil dólares para os familiares sobreviventes, mas esse dinheiro ía directo para os bolsos dos credores e, de facto, transformou-se num incentivo perverso para que muitos agricultores acabassem com a própria vida.
Graças à política de abertura promovida pelo governo, a superfície dedicada ao algodão transgénico em Vidarba passou de 0,4 % para 15 % em apenas três anos. Nesse período também aumentou a taxa de suicídios de agricultores.
Milhares de camponeses cuja forma de vida foi destruída ao caírem nas garras dos seus credores recorreram ao suicídio como única escapatória. No processo puseram a descoberto o falhanço de um projecto agrícola baseado em “soluções” tecnológicas com múltiplos efeitos negativos e relações sociais disfuncionais.
Por que não corrigir os danos da revolução verde em lugar de saltar a abraçar a tecnologia dos OGM?
Fonte: Adaptação do artigo de A. Nadal
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