Haitianos resistem a doação de transgénicos
O Haiti, país atingido em Janeiro por um terremoto que matou mais de 250 mil pessoas e deixou 1,3 milhão de desabrigados, vive uma controvérsia. A ajuda que a multinacional Monsanto oferece, de 475 toneladas de sementes transgénicas, está sendo rejeitada por agricultores locais e colocou o governo em uma saia justa.

Por um lado, os haitianos querem amenizar a fome. Por outro, protestam contra a transgénica. Milhares de agricultores fizeram manifestações em Junho, com palavras de ordem contra a Monsanto e o presidente haitiano, René Préval, acusado de “vender o país” a uma multinacional. Sementes híbridas de milho foram queimadas.

O jornal francês Le Monde conta que a polémica tomou corpo quando, em 10 de maio, o padre britânico Jean-Yves Urfié, que leccionou química no Collège Saint Martial, de Porto Príncipe, criticou a doação. O ministro haitiano da Agricultura, Joanas Gué, disse ter tomado precauções antes de aceitar as sementes. Mesmo com esse esclarecimento, cerca de 10 organizações agrícolas continuaram com a ofensiva contra o “cálice envenenado”.

– As doações são um ataque contra nossa biodiversidade – argumentou o agricultor Chavannes Jean-Baptiste.

– Fizemos uma doação ao povo do Haiti, e os agricultores são livres para utilizar as sementes que melhor lhe convierem – retrucou Darren Wallis, porta-voz da Monsanto, que reclamou do fato de países desenvolvidos usarem sementes orgânicas, enquanto as transgénicas, segundo ele, são enviadas para os subdesenvolvidos.

Foi no Fórum Mundial de Davos que a Monsanto decidiu doar sementes no valor de R$ 7,2 milhões. Duas cargas, com 130 toneladas, chegaram ao Haiti. As 345 toneladas restantes serão enviadas nos próximos 12 meses. A Monsanto sustenta que doação semelhante, feita ao Maláui, em 2006, quintuplicou a produção local.

03-07-2010


 
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